O caso de duas brasileiras que foram presas injustamente na Alemanha após terem suas malas trocadas no Brasil trouxeram à tona diversas preocupações sobre como garantir a segurança de bagagens no transporte aéreo, em especial das malas que são despachadas e acabam saindo da supervisão dos seus donos. Mas a tecnologia blockchain pode ajudar nessa tarefa.
É o que explica Alan Kardec, COO da Blockchain One. A empresa é especializada no desenvolvimento de negócios que tenham como ponto de partida a nova tecnologia, que muitas vezes é associada apenas às criptomoedas e aos tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) quando, na verdade, ela possui diversas formas diferentes de ser aplicada em operações.
Segundo ele, seria possível usar a tecnologia para “garantir a integridade dos dados e informações relacionadas a bagagens antes do despacho”. Ele apelidou o sistema de “despacho criptografado”, que envolveria criar um “sistema descentralizado e seguro de rastreamento” a partir de um identificador único para cada bagagem que ficaria registrado em uma rede.
“Essa informação seria registrada em um bloco de uma das diversas redes blockchain, seja ela pública ou privada, contendo as informações de volume, itens, fotos, localização, rastreabilidade, números seriais e diversas outras. Uma vez criptografado no blockchain, não seria possível realizar qualquer alteração dessas informações”, ressalta o especialista.
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Ele explica que, no momento, uma solução do tipo ainda não é realidade no Brasil, mas a implementação seria relativamente simples por parte de companhias aéreas. Seria possível, por exemplo, usar APIs gratuitas para implementar a tecnologia nos sistemas e infraestruturas já existentes das próprias empresas.
“Desta forma, na hora de realizar o check-in, o passageiro poderia optar por criptografar sua bagagem informando diversas peculiaridades que esteja transportando e que sejam de fácil identificação pessoal. Por mais que alguém trocasse as etiquetas, bastaria consultar a base de dados com o hash [uma espécie de código de identificação] do registro em que constam os dados informados”, comenta.
Nesse caso, as opções de identificação seriam variadas, indo desde fotos da própria mala quanto dos itens levados na bagagem, ou então de características únicas daquela bagagem. Também seria possível incluir o localizador do local de saída da mala e o itinerário até a sua chegada, registrando com isso cada movimentação da bagagem e facilitando essa checagem, até em tempo real.
“Na eventual troca de etiquetas, como o ocorrido com as brasileiras, ficaria muito mais fácil validar a informação de um conteúdo verificando a autenticidade do hash com as informações lastreadas a ele”, explica. Ele observa ainda que esses registros em blockchain poderiam ser úteis para ajudar nos processos de investigação, servindo como provas de culpa ou inocência.
Adoção de blockchains
Kardec ressalta que “existem esforços para incluir cada vez mais a tecnologia blockchain como prova em investigações judiciais. Uma das principais vantagens de utilizar a tecnologia blockchain como mais um sistema de segurança nessas movimentações é o fato dela emitir um registro imutável e transparente de todas as movimentações registradas. Isso pode ser extremamente valioso em casos em que seja necessário estabelecer uma cadeia de custódia ou comprovar a autenticidade de um registro”.
Mesmo assim, o especialista destaca que é preciso tomar alguns cuidados na implementação dessa tecnologia. O mais importante é ter cautela e pesquisar antes de considerar adotar um sistema que seja baseado em criptografia, seja ele gratuito ou oferecido por alguma empresa.
“Avalie a tecnologia subjacente, pois nem todas as soluções de blockchain são criadas iguais, e é importante avaliar a tecnologia subjacente por trás da solução para garantir que ela seja escalável, segura e eficiente. Neste caso, o interessante seria que as companhias aéreas adotassem, cada vez mais, modelos descentralizados e compatíveis com a web3”, defende.
Fonte: Exame