sexta-feira,22 novembro, 2024

Rui Piranda: O que o Web Summit Rio pode fazer pelo Brasil?

Estamos a menos de um mês para a primeira edição do Web Summit no Brasil e as expectativas só aumentam. A Cidade Maravilhosa saiu-se bem na disputa com Porto Alegre e Brasília e, em maio deste ano, será palco de um dos maiores eventos de tecnologia do mundo para conectar empreendedores, startups e investidores. Mas podemos ir além.

A perspectiva para o Rio de Janeiro já é grande: se transformar na “capital brasileira da tecnologia”. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS), o Web Summit é posicionado como o “Rock in Rio da tecnologia” e visa alavancar o crescimento do ecossistema tecnológico na região.

A Prefeitura do Rio também destaca o impacto econômico: a projeção para as seis edições do Web Summit na capital — em caso de renovação — é receber um público de mais de 800 mil pessoas e injetar R$ 1,2 bilhão no mercado local. Até mesmo a data de realização do evento beneficia estrategicamente o turismo durante o período comumente de baixa temporada no setor hoteleiro.

Mas vamos voltar um pouco no tempo: em 2022, tive o prazer de acompanhar o Web Summit presencialmente em Lisboa. Sabe quem marcou forte presença na edição? A política. O evento abriu com o prefeito de Lisboa, Carlos Moedas, agradecendo a presença de mais de 70 mil pessoas e aproveitando para nos convidar a trazer soluções para Portugal. Pulo direto para o encerramento. Nada menos do que o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, comemorando a execução do evento e nos convidando, novamente, para levarmos ideias inovadoras ao governo português.

Sabe o que está por trás disso? O interesse de ir além das próprias fronteiras e ser a alavanca tecnológica para toda a Europa. E o Web Summit está diretamente ligado a esse desafio. Paralelamente, há um acorde entre Portugal e a comunidade europeia que disponibilizam juntos mais de 45 milhões de euros para investir nas startups e empresas que trazem novas soluções inovadoras para as mais diferentes áreas como, saúde, educação, transporte, meio ambiente, entre outras listadas como foco.

Embora o impacto econômico não seja medido inteiramente pelos resultados do evento, dá para dizer que deu certo. Segundo o estudo da Dealroom, desde a chegada do Web Summit em 2016, as startups sediadas em Lisboa passaram a valer 27 vezes mais. Além disso, o governo de Portugal criou uma legislação especificamente para fomentar empreendedores e novas iniciativas no país. Atualmente, a capital portuguesa já é reconhecida como hub internacional de tecnologia. Eu realmente espero que o Rio consiga repetir essa façanha.

Sediar o maior evento europeu de tecnologia certamente já é uma grande ajuda para impulsionar empresas brasileiras para o mundo e… para o nosso próprio país. O que não faltam para nós são desafios. Somos continentais, o Norte do nosso país é o maior pulmão do mundo. Temos uma costa marítima equivalente a toda face europeia e…um desequilíbrio financeiro e cultural pungente. Fui para Lisboa para ver palestras que impactassem o comportamento, porém retornei entendendo que esse evento pode deixar um rastro econômico e político gigante. Podemos nos inspirar nos portugueses e trazer para nós a meta de redescobrir o Brasil e colocar em prática toda a sua potência.

Isso fica ainda mais desafiador em um contexto de crise de “unicórnios”. Essas figuras místicas, no mercado de tecnologia, representam startups que atingem a marca de avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão. Hoje em dia, chegar a esse patamar é raro ao nível de livro de fantasia. Manter o título é ainda mais. Diante da diminuição dos aportes e das demissões em grande escala, as startups passaram para uma baixa de 55% mundialmente e de 66% no Brasil, decorrente do aumento dos juros, da volatilidade das ações e das incertezas do cenário macroeconômico. Para Paddy Cosgrave, CEO e cofundador do Web Summit, o inverno das startups nada mais é do que um fator a mais para os empreendedores avistarem no evento a oportunidade de aprender a contornar as dificuldades e angariar conexões estratégicas no mercado.

Deixando um pouco a questão econômica de lado (só um pouco mesmo), a edição latino-americana também é um ato de representatividade e diversidade diante do cenário global, embora ainda tenha muito o que trilhar. Na edição de 2022, o influenciador brasileiro Kondzilla Dantas, fundador e videomaker do canal Kondzilla, emocionou a todos ao falar da importância de ampliar a voz de talentos até então marginalizados na periferia. Dantas voltará para a edição deste ano e a expectativa é que ele seja ainda mais contundente ao mostrar a produção e expertise nacional.

E o que mais dá para esperar do evento? Muita Inteligência Artificial. A grande repercussão da divulgação do lançamento do Chat GPT-4, a imagem do “Papa Fashion” criada por IA e até mesmo o movimento de solicitação de suspensão dos avanços tornam o tema ainda mais relevante. Alguns dos tópicos das palestras já confirmadas para o Web Summit giram em torno da inteligência artificial, o que significa que o tema não foi exaurido.

Já abordei sobre o tema durante a minha participação no Web Summit de Lisboa, mas vale reforçar: a IA já faz parte do nosso dia a dia e só representa uma ameaça se não soubermos lidar com esse recurso. Em meio a tantos avanços tecnológicos, não podemos esquecer que o que move o nosso mercado de marcas ainda é, em sua essência, as conexões humanas. Volto a dizer uma frase que escutei há muitos anos no Festival de Cannes e nunca mais esqueci: a tecnologia deve nos fazer ser cada vez mais humanos.

Vou para este evento com a expectativa de ver tendências e oportunidades de investimento no mercado latino-americano, cibersegurança, criptomoedas, metaverso, branding, sustentabilidade, SaaS e presença digital sendo discutidas por grandes nomes do mercado.

A tecnologia realmente pode nos ajudar a descobrir um novo Brasil. Mas enquanto isso não acontece, vou tentar me divertir no percurso inspirado pela voz de Gilberto Gil: “o Rio de Janeiro continua lindo”.

Fonte: Exame

Redação
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