Como simular o funcionamento do organismo humano para testar a segurança de ingredientes e novos produtos? Essa foi a pergunta feita pela Natura, em parceria com o Laboratório Nacional de Biociências do CNPEM – Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBio), ao iniciar o desenvolvimento da “human-on-a-chip”, tecnologia que recria pele e fragmentos de órgãos humanos e simula, em laboratório, as reações a produtos e substâncias.
A tecnologia vem sendo estudada desde 2019 e é aplicada atualmente pela Natura para o desenvolvimento e a aprovação de matérias-primas originais da marca, pois permite análises bastante específicas. O sistema já passou a integrar os testes de segurança realizados pela companhia. A empresa deixou de realizar testes em animais em 2006 e possui a aprovação do Programa Leaping Bunny, da Cruelty Free International, e da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals).
“A falta de dados e testes sobre uma matéria-prima pode acarretar redução da concentração permitida ou a proibição de seu uso em determinados produtos. Os resultados da aplicação do método desenvolvido pela Natura podem permitir aumento em até 10 vezes as concentrações de novas matérias-primas, favorecendo sua máxima potência e eficácia cosmética. A tecnologia representa um salto de qualidade técnico-científica na geração de dados de segurança”, explica Roseli Mello, Diretora-geral de Pesquisa e Desenvolvimento da Natura.
Como funciona?
A metodologia consiste na combinação de estruturas biológicas equivalentes a órgãos humanos, fabricados em laboratório, integrados de forma a reproduzir o funcionamento do organismo. O sistema, ativado por um fluxo de líquidos e soluções, que imita a circulação sanguínea, permite aos pesquisadores e cientistas avaliarem os efeitos de um ingrediente cosmético tanto dentro (órgãos) quanto fora do corpo (pele) ao mesmo tempo.
“Iniciamos a implementação das tecnologias microfisiológicas no CNPEM em 2015. Desde então, avançamos no desenvolvimento de pele reconstituída, esferoides de tecido adiposo e hepático, modelos de barreira intestinal e de epitélio pulmonar. O domínio desse tipo de tecnologia nos permite conduzir colaborações de pesquisa que buscam resolver desafios tecnológicos na área de métodos alternativos, como demonstra essa parceria com a Natura”, explica o Dr. Kleber Franchini, Diretor do LNBio do CNPEM.
Para Kelen Fabiola Arroteia, Gerente do Núcleo de Avaliação Pré-Clínica da Natura, e uma das profissionais envolvidas no desenvolvimento da nova metodologia, a estratégia de desenvolver matérias-primas exclusivas da biodiversidade brasileira trás desafios adicionais ao processo de desenvolvimento de testes alternativos. Os ingredientes naturais são muitas vezes misturas inéditas e complexas de compostos, sem dados históricos em literatura, e essa complexidade e escassez de dados demanda o desenvolvimento e implementação de novos métodos de avaliação. “Para a Natura, a segurança de seus produtos e ingredientes está em primeiro lugar e entendemos que isso é algo primordial dentro da categoria cosmética. Ao mesmo tempo, a composição química de algumas matérias-primas pode chegar a ter mais de cem compostos, o que torna a necessidade de desenvolvimento de novas análises e testes ainda mais imprescindível”, acrescenta Roseli Mello.
Por: Luiz Gustavo Pacete