Imagine conversar de forma natural sobre uma ampla variedade de tópicos, desde perguntas simples até conversas mais complexas, mas, ao invés de fazer isso com uma pessoa, fazê-lo com uma máquina. Essa é uma das habilidades do ChatGPT, um chatbot feito pela empresa estadunidense OpenAI, que usa Inteligência Artificial generativa para criar conversas de modo humanizado.
Lançado no final de 2022, a plataforma causou uma revolução no mercado, sendo considerada por muitos especialistas da área, uma das tecnologias mais disruptivas dos últimos tempos. Em janeiro, poucos meses após seu lançamento, a plataforma – ainda em fase de testes – já havia conseguido mais de um milhão de usuários, atraindo também a atenção de grandes corporações como Microsoft e Google.
“Toda tecnologia, como o ChatGPT, causa uma inflexão nos negócios, na sociedade de forma geral. O mobile, o celular, também causou […]. Ela é uma ruptura, um ponto de inflexão em muitos setores simultaneamente e isso é preocupante porque você vai ter esse deslocamento em que nem todo mundo vai conseguir se readaptar a isso”, explica o CEO do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), Eduardo Peixoto.
O que é e como funciona
ChatGPT vem de Chat with Generative Pre-trained Transformer, uma técnica de aprendizado de máquina que permite que o modelo seja pré-treinado em grandes conjuntos de dados de texto para aprender a linguagem natural e assim, falar de forma mais fluida com o usuário.
Ele pode ser utilizado em diversas aplicações como compreensão e geração de textos para chatbots, assistentes virtuais, tradução automática e até mesmo análise de sentimentos. Tudo isso em diversos idiomas. A empresa afirma que o software é capaz de gerar textos em inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, português, chinês, japonês, entre outras línguas.
“Quando a gente fala de ChatGPT, estamos falando de LLM (Large Language Model), que é um aspecto da inteligência artificial. O que o algoritmo faz é colocar a palavra que melhor se sairá na posição escolhida”, explica o diretor-executivo do CESAR, Beto Macedo.
Para ele, mesmo com a popularização da ferramenta, ainda é cedo para dizer que a IA irá substituir a mão de obra humana das cadeias de trabalho. “Ele não é um substituto para o ser humano, porque um ser humano é capaz de entender o que é azul, o que é amarelo, nenhuma máquina é capaz de fazer isso. Tem uma utilidade muito grande, mas tem uma limitação”, afirma Beto.
O futuro e (possíveis) consequências
Com a aparição do ChatGPT e também de outras aplicações que usam a Inteligência Artificial para criar imagens, textos e vídeos – como Midjourney, o Bard, do Google e o DALL-E, também criado pela OpenAI, há um receio crescente da substituição da mão de obra de trabalho humana – ao menos na parte criativa – pelas máquinas. Os especialistas apontam que, apesar de a automatização de processos de trabalho no futuro ser uma realidade cada vez mais próxima, alguns devem demorar um pouco mais para acontecer.
“O GPT é uma força produtiva que se alia ao ser humano. Ele não tem a capacidade de substituir o ser humano – ao menos não por hora – mas ele tem o potencial de substituir pessoas em uma cadeira produtiva. Então, não significa que todos os humanos vão ser eliminados, mas você vai ter uma produtividade maior com um número reduzido de pessoas”, explica o antropólogo e design Léo Lima, que trabalha acompanhando as mudanças no universo da tecnologia.
Para o também especialista em inovação, o papel do trabalhador ficará mais reservado ao da edição, funcionando como um supervisor do conteúdo criado pela máquina. “A gente terá que repensar as nossas cadeias produtivas e esse é o impacto que essa Inteligência Artificial terá nos próximos meses e anos”, completa.
As lições do passado
Segundo ele, não há como prever as consequências, mas há como a sociedade aprender com as mudanças do passado. “O que aconteceu na revolução industrial? Tínhamos um modelo muito artesanal de produção e, com o passar do tempo, essa cadeia foi ganhando equipamentos. Que é o que provavelmente vai acontecer em uma série de cadeias produtivas, que vão automatizar processos inteiros. Elas já estavam em um processo acelerado de digitalização e que agora vão acelerar essa digitalização direcionadas pela automatização de processo, que agora vão produzir com o auxílio da IA”, comenta.
“Tem uma coisa que a gente fala em estudos de futuro que se chama tendência irreversível, eu acho que o ChatGPT está se tornando uma dessas tendências irreversíveis”, finaliza.
É importante ressaltar também que, apesar de tantas possibilidades de uso, a ferramenta tem suas limitações. O ChatGPT só tem acesso a informações divulgadas até 2021 e nem sempre a busca e a curadoria de informações que ele absorve são confiáveis. “Não é porque o ChatGPT disse que é verdade. Não são verdade para os humanos e não são verdade para as IAs”, afirmou o cofundador e presidente da OpenAI, Greg Brockman.
Fonte: Folha PE