A pesquisadora Anna Vanderbruggen observa uma garrafa de um líquido escuro e borbulhante, resultado de um processo que desenvolveu para recuperar o grafite de velhas baterias de íons de lítio. Embora o grafite represente até um quarto do peso das baterias, ninguém formulou um plano viável para reciclá-lo, afirma Vanderbruggen.

À medida que a Europa transita de veículos de combustão para elétricos, a reciclagem do grafite e de outros componentes da bateria se torna mais relevante. Ainda mais quando o continente busca se livrar de sua dependência de países como a China para obter matérias-primas.

Até agora, “os fabricantes de baterias não estavam interessados” em reciclar grafite, porque “conseguiam barato na China”, disse Vanderbruggen à AFP.

Desenvolvido no Instituto de Pesquisa Helmholtz, em Freiberg, na Alemanha, seu método envolve a extração de grafite da “massa preta”, um pó que também contém cobalto, níquel, lítio e manganês.

“Você coloca a massa preta na água e adiciona alguns produtos químicos e bolhas de ar, como em uma banheira de hidromassagem”, explicou Vanderbruggen, natural da França.

“O grafite adere às bolhas, enquanto os metais são hidrofílicos e, portanto, permanecem na água”, acrescenta.

Vanderbruggen também é consultora de empresas que exploram oportunidades futuras com a reciclagem de baterias de carros elétricos.

Custos crescentes
O aumento dos custos e a escassez de matérias-primas têm motivado um crescente interesse pelo assunto.

O preço do lítio cresceu 13% nos últimos cinco anos, segundo Philippe Barboux, professor de química da Universidade PSL, de Paris. Segundo ele, o lítio não é reciclado em grande escala, “porque não é lucrativo”.

Mas isso pode mudar com 350 milhões de carros elétricos que devem chegar às estradas do mundo até 2030, contra 16,5 milhões em 2021, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).

“Em dez anos, serão fabricadas tantas baterias que o lítio terá de ser, absolutamente, reciclado, do contrário não haverá o suficiente”, disse Barboux.

Em tese, já existe tecnologia para reciclar quase todos os materiais que compõem as baterias de íon-lítio, segundo especialistas consultados pela AFP.

O grupo alemão Aurubis, um dos maiores fornecedores de metais não ferrosos, diz ser capaz de reciclar pelo menos 95% dos metais que compõem a “massa preta” em uma planta piloto instalada em Hamburgo.

O grupo minerador francês Eramet, a belga Umicore e a montadora alemã Mercedes também iniciaram empreendimentos similares. A maioria desses projetos ainda está em fase piloto.

Como as baterias tendem a durar de sete a oito anos, ainda não há “baterias em fim de vida suficientes” para abastecer o mercado, explica Serge Pelissier, diretor de pesquisa da Universidade Gustave Eiffel, de Lyon.

Também existem muitos modelos de baterias de automóveis, o que dificulta o estabelecimento de um sistema de reciclagem padronizado, como existe para telefones celulares, ou laptops.

A União Europeia quer que as novas baterias incorporem 16% de cobalto reciclado e 6% de lítio e níquel reciclados até 2031. E que pelo menos 70% do peso das baterias usadas seja reciclado nesse mesmo prazo.

“Se recuperarem novos componentes como o grafite, poderão atingir essas metas”, observa Vanderbruggen.

Por AFP