Jornal GGN – O novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, divulgou um texto enaltecendo o 31 de Março de 1964, chamando o golpe militar que instaurou a ditadura no Brasil de “responsabilidade de pacificar o país”. Como repercussão, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aproveitou o espaço para criticar a posição do general. A Câmara dos Deputados aprovou convocação do general para explicar compras feitas pelo exército de produtos supérfluos como cerveja, bacalhau, filé e salmão a preços superfaturados.
“As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o país, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”, escreveu Braga Netto, recém nomeado ministro da Defesa pelo presidente Jair Bolsonaro.
No texto intitulado “Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964”, nesta terça (30), véspera do golpe da ditadura no país, o militar elogia “conquistas” do que chamou de “movimento de 31 de março de 1964”.
“Os brasileiros perceberam a emergência e se movimentaram nas ruas, com amplo apoio da imprensa, de lideranças políticas, das igrejas, do segmento empresarial, de diversos setores da sociedade organizada e das Forças Armadas, interrompendo a escalada conflitiva, resultando no chamado movimento de 31 de março de 1964”, disse.
O golpe militar, que derrubou João Goulart, levou a uma ditadura de 21 anos no Brasil, com o regime militar, o fechamento do Congresso, censura à imprensa, perseguições, torturas, mortes e desaparecidos. Segundo o relatório da Comissão da Verdade, foram cerca de 20 mil torturados, milhares de exilados, 500 mortos e desaparecidos pela ditadura.
No comunicado, Braga Netto confirma as intenções do presidente Jair Bolsonaro de inserir as Forças Armadas na política, com as últimas mudanças ministeriais. “O cenário geopolítico atual apresenta novos desafios, como questões ambientais, ameaças cibernéticas, segurança alimentar e pandemias. As Forças Armadas estão presentes, na linha de frente, protegendo a população”, assegurou.
REAÇÃO DURA
O texto provocou intensa reação política, com duras críticas ao movimento do governo Bolsonaro. De forma oportuna, o governador João Doria (PSDB) quis assumir a linha de frente das reações. Na manhã desta quarta (31), disse que “não temos nada a comemorar sobre o golpe de 64”, mas “temos é que chorar os mortos e os viciados por essa ditadura militar”.
“Considero uma afronta a carta do general Braga Netto propondo a celebração de um golpe militar que vitimou milhares de brasileiros não só da política, da cultura, da sociedade civil, jornalistas”, manifestou.
Filho do ex-deputado federal e publicitário João Agripino da Costa Doria Neto (ex-PDC), que teve mandato cassado e direitos políticos suspensos após o golpe militar e se exilou em Paris, por dez anos, Doria lamentou. “É muito triste, depois de tantos anos, termos uma manifestação dessa natureza. O Brasil não tem nada a comemorar.”
General vai ter que se explicar à Câmara
Em meio às trocas ministeriais e das Forças Armadas, o novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto foi convocado a prestar esclarecimentos aos parlamentares em comissão na Câmara dos Deputados.
O tema central é a suspeita de superfaturamento na compra de alimentos e outras aquisições para as Forças Armadas em 2020. Braga Netto antes comandava a Casa Civil e, portanto, será questionado pela Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados.
“Fomos surpreendidos ao fazer um levantamento no Painel de Preços do Ministério da Economia, em processos de compras para as Forças Armadas, e detectamos a aquisição de picanha, cerveja, bacalhau, filé e salmão”, traz trecho do requerimento, apresentado pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO).
Mas, além das suspeitas financeiras, os deputados buscarão questionar o recém empossado ministro da Defesa sobre as trocas militares, desde que assumiu o cargo. A suspeita é de que o governo de Jair Bolsonaro articula, junto ao ministro, o uso das Forças Armadas para controle político.
Ontem, os comandantes da Marinha, Aeronáutica e do Exército deixaram os postos, após discordâncias com o governo de Jair Bolsonaro, logo após a saída de Fernando Azevedo e Silva e Braga Netto assumindo o Ministério da Defesa.
O pedido do deputado Elias Vaz era dirigido ao então ministro Fernando Azevedo e Silva. Como ele foi substituído por Braga Netto, o general é que foi convocado, em data ainda a ser definida pelos parlamentares. Por se tratar de tema de Comissão, a presença do general não é opcional, ele deverá comparecer à audiência.
“O caso que mais chamou a atenção [dentre as cervejas] é o da latinha da Bohemia Puro Malte. O valor unitário que consta no processo já homologado é R$ 4,33 e o preço para o consumidor comum, em uma busca rápida por supermercados, é R$ 2,59, diferença de 67%. Já a garrafa de Bohemia de 600 ml é orçada em R$ 7,29 enquanto é possível encontrar no varejo o valor de R$ 5,79, sobrepreço de 25,9%”, detalhou o deputado.
Para ele, “é revoltante saber que esses processos correram em plena crise, quando falta o básico para muitas famílias e os recursos deveriam ser aplicados no combate à pandemia”. Nesta quarta (31), os deputados aprovaram a convocação.
Por Jornal GGN O jornal de todos os Brasis