A poluição por microplásticos representa um sério desafio ambiental a ser enfrentado nos dias de hoje e cientistas brasileiros já estão fazendo seu papel. Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra como o formato das partículas plásticas deve ser incorporado nas análises, não somente sua quantidade.
O estudo do impacto ambiental da poluição plástica cresceu significativamente na última década, mas a área ainda enfrenta problemas como a falta de uma padronização para as técnicas de coleta de amostras ou mesmo para a metodologia de análise. As conclusões dos estudos, frequentemente, são reportadas com base nos resultados de números de partículas encontradas, quaisquer que sejam suas dimensões e pesos.
A pesquisa realizada pelos cientistas da Unifesp demonstra que diferenças na morfologia das partículas — massa, dimensões e área superficial, por exemplo — geram impactos distintos em amostras de mesma quantidade. O comprimento dos microplásticos pode variar de 0,001 a 5 milímetros — ou de 1 a 5.000 micrômetros, do tamanho de uma bactéria ao tamanho de uma formiga.
Além de notar o problema em estudos anteriores, o professor Décio Semensatto e seus colegas de estudos se depararam com a questão da morfologia dos microplásticos em sua pesquisa sobre as partículas presentes na Represa Guarapiranga. “Nós coletamos amostras nas temporadas de chuva e de seca e encontramos mais microplásticos em uma do que na outra, com uma diferença ainda maior em termos de massa e volume. Usar somente o número de partículas como parâmetro [de avaliação de impactos] foca apenas em uma dimensão e ignora o fato de que diferentes tamanhos têm diferentes efeitos nos ecossistemas,” afirma o pesquisador.
Comparando as partículas
Os cientistas demonstram que entre duas amostras, ambas com 100 microplásticos, a que contém partículas maiores vai gerar maiores impactos. Isso se deve ao fato de que o plástico das partículas grandes ainda pode ser quebrado em partes menores — em estudos convencionais, porém, as duas amostras seriam consideradas equivalentes.
Outro fator a ser considerado é a área superficial das partículas. Uma boa comparação, neste caso, é uma folha de papel: se ela for amassada no formato de uma bola, sua superfície de contato diminuirá significativamente, mas sua massa continuará a mesma. Os microplásticos com maior área superficial apresentam potencial de carregar consigo outros poluentes, como metais pesados e fármacos, ou até fungos e bactérias.
Em um momento em que a comunidade internacional está voltando suas atenções para a poluição plástica, refinar análise pode ajudar governos e instituições a tomar decisões mais embasadas em termos de políticas para combater o problema. “Analisar todos os atributos das amostras nos traz novas possibilidades à tona e amplia a comparabilidade dos resultados,” conclui Décio.
Fonte: Environmental Science and Pollution Research Via: Phys.org
Por: Rodilei Morais