A guerra da Netflix contra o compartilhamento de contas entra em um novo capítulo com a empresa começando a cobrar uma taxa adicional de quem divide sua senha com amigos e familiares. A novidade foi liberada nesta semana para usuários do Canadá, Portugal, Espanha e Nova Zelândia, que foram surpreendidos com valores bastante salgados.
A nova política está em vigência nesses países desde a quarta-feira (8). No caso, os assinantes terão de pagar um valor adicional à mensalidade para permitir que até duas pessoas extras fora do endereço principal — a tal Residência Netflix — possam continuar tendo acesso ao catálogo.
O valor dessa taxa varia de acordo com o local. Em Portugal, a cobrança é de 4 euros por pessoa, enquanto a Netflix espanhola definiu a cobrança em 6 euros. Já no Canadá e Nova Zelândia, esse extra ficou em 8 dólares canadenses e neozelandeses, respectivamente.
E essa foi a grande surpresa, mais até do que o início da taxação. Nos quatro casos disponibilizados até agora, o valor cobrado é superior ao que havia sido estabelecido durante os testes no Chile, Peru e Costa Rica. Nesses países, o adicional por usuário extra girava em torno de 25% do plano Padrão cobrado em cada região. Contudo, o que se viu na prática foi uma cobrança na casa dos 43%.
O valor mais alto está no Canadá, cujos C$ 8 equivalem à metade do valor da assinatura regular. Assim, para o caso de uma pessoa que compartilhe a conta com mais duas pessoas, o valor da assinatura vai dobrar.
Como vai funcionar
De acordo com o que vem sendo feito nesses quatro países iniciais, a nova política da Netflix funciona da seguinte forma: a partir do cruzamento de dados de IP, dados dos dispositivos conectados e do próprio padrão de uso, o streaming define qual é a residência do assinante e identifica aparelhos que estão fora dela. A partir disso, a plataforma bloqueia o acesso desses usuários adicionais, podendo liberá-los a partir desse pagamento adicional.
No caso, o valor extra deve ser pago pelo titular da conta — ou seja, aquele que já paga a mensalidade e que compartilhou sua senha. O valor varia de acordo com o país, mas o mais importante é que há um limite de duas pessoas adicionais e que o extra é contabilizado por pessoa.
Um usuário canadense, por exemplo, paga C$ 16 no plano Padrão. Assim, caso ele decida dividir a conta com outras pessoas, serão adicionados mais C$ 8 para cada usuário extra — o que pode fazer com que o valor total chegue a C$ 32, acima até do que o Plano Premium no país.
E no Brasil?
Até o momento, não há nada oficial sobre a adoção da nova política em outros países — incluindo o próprio Brasil. Nem mesmo os Estados Unidos receberam a infeliz novidade, mas parece ser apenas uma questão de tempo para que a cobrança adicional chegue a mais mercados.
Na semana passada, por exemplo, a página de suporte da Netflix nos EUA deixou escapar parte do seu plano de bloqueio de contas compartilhadas. A diferença era que, ao invés de cobrar a mais do usuário, o texto indicava um corte total de acesso ao conteúdo. Menos de 24 horas depois, a empresa afirmou que o texto foi publicado por engano e que nada daquilo estava valendo.
O Canaltech procurou a Netflix para saber mais sobre a situação do Brasil em meio a essas mudança. Até o momento da publicação, não houve retorno.
Cobrança esperada
Apesar de a cobrança ter surpreendido muita gente, a verdade é que esse cerco contra o compartilhamento de contas não é novo. A Netflix vem sinalizando algo nesse sentido desde o início de 2022, quando constatou a primeira queda real no número de assinantes em uma década.
Desde então, a plataforma vem estudando saídas para voltar a crescer — e o compartilhamento de contas entrou na mira como um dos principais vilões desse objetivo. A estimativa da companhia é que cerca de 100 milhões de contas sejam usadas por mais de uma residência em todo o mundo — o que representa quase metade dos 230 milhões de assinantes da Netflix.
Um estudo apresentado em 2022 mostrou que ela poderia ver um aumento nas receitas de quase US$ 1,6 bi apenas com essa taxa adicional — um aumento de 4% da arrecadação global estimada para 2023.
Por Durval Ramos