Seis de fevereiro é dia de relembrar e saudar a memória do político mato-grossense de maior expressão nacional, o grande homem público Dante Martins de Oliveira. Hoje ele completaria 71 anos e certamente estaria trabalhando em defesa dos direitos dos cidadãos, como fez na prefeitura de Cuiabá, na ALMT, no governo do Estado, no ministério da Reforma Agrária e na Câmara dos Deputados onde liderou a memorável campanha das Diretas Já.
Tenho certeza que Dante estaria feliz também com minha reeleição na Assembleia Legislativa, ele que me trouxe para a política como Secretário de Indústria, Comércio e Turismo da Capital e depois como Secretário de Turismo na primeira gestão no Governo do Estado e Secretário de Indústria, Comércio e Mineração na segunda gestão estadual.
O amigo Dante faz muita falta. Conheci-o no início de 1993, logo depois da eleição para o segundo mandato de prefeito de Cuiabá. Cumprindo compromisso de campanha, decidiu criar a secretaria de Indústria, Comércio e Turismo e me convidou para aquela missão. “Vou criar a secretaria e preciso de um nome jovem, um empresário que não tenha filiação partidária”, disse ele.
Eu era Presidente do Sinduscon, tinha 32 anos, e argumentei que só o conhecia da mídia e sequer participara da campanha. A resposta dele: “serei candidato a governador, o empresariado me tem como de extrema esquerda, e preciso me aproximar, porém sem os vícios destes relacionamentos de políticos com empresários. Acredito que juntos podemos fazer esta aproximação”.
Aceitei o convite que iniciou 13 anos de convivência amigável, respeito e admiração. Trabalhamos muito, viajamos e participamos dos sonhos de Dante, que passaram a ser nossos, de uma Cuiabá próspera e um Mato Grosso pujante, economicamente desenvolvido e socialmente justo e melhor para todos.
Do final da década de 70 ao início do século XXI, a trajetória de Dante foi decisiva na preparação de Mato Grosso para se tornar a potência do agronegócio que é hoje, através de uma ampla reforma administrativa e a superação de problemas graves de infraestrutura e logística. Promove uma ampla reforma do Estado, privatiza a Cemat, municipaliza a Sanemat, líquida o Bemat e renegocia as dívidas com a União, implementando a lei de responsabilidade fiscal em MT.
Através do Programa Mato Grosso – Hora de Investir, Dante e eu visitamos mais de 70 cidades e 20 países, divulgando o potencial do estado para atrair investimentos nacionais e internacionais que foram decisivos para criar as bases do desenvolvimento excepcional que hoje o estado experimenta.
Ciente das barreiras que impediam a expansão econômica do estado, Dante equaciona o problema da energia trazendo o gasoduto com 600 km da Bolívia a Cuiabá, inaugura a Usina Termelétrica Mário Covas e a Usina de Manso. O nó da logística de transportes começa a ser desatado a partir da articulação política e administrativa que trouxe a ferrovia a Mato Grosso, com o apoio decisivo do então governador de São Paulo, Mário Covas e do ex-presidente FHC. Também executa o maior projeto de pontes de concreto e inaugura a ponte Sérgio Motta entre Cuiabá e Várzea Grande.
Dante ainda cria os Consórcios Municipais de Saúde, implementa as equipes de Saúde da Família, democratiza a Educação com eleições diretas para diretores das escolas, cria o Programa de Apoio Direto às Comunidades (Padic), cria o Fethab que até hoje viabiliza diversas políticas públicas, implanta a Polícia Comunitária e fortalece as políticas públicas sociais executadas pela Prosol sob a coordenação de Thelma de Oliveira.
Democrata convicto, combativo e eficiente, foi deputado estadual e federal e deixou sua marca na história política da Nação. Visionário, apresentou na Câmara dos Deputados a Proposta de Emenda Constitucional que reinstaurava as eleições diretas para presidente da República. A emenda Dante de Oliveira transpôs os limites do Congresso e ganhou as ruas, se tornando a Emenda das Diretas Já, com o apoio da maior liderança da oposição na época, seu padrinho de casamento Ulysses Guimarães.
Ao lado de Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Leonel Brizola, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Franco Montoro, percorreu o país e apressou a redemocratização do Brasil, no maior e mais empolgante movimento popular da nossa história.
Apesar das lições que o democrata Dante deixou, sofremos ao ver depois das últimas eleições presidenciais, centenas de pessoas nas ruas em Cuiabá e no interior pedindo intervenção militar. Justamente em Mato Grosso, o estado de Dante de Oliveira, o homem das Diretas, que lutou para que os brasileiros pudessem recuperar o direito de votar.
Um fato jornalístico mostra bem a grandeza e o espírito público elevado de Dante. Em 2002 fui suplente de senador na chapa de Dante, que acabou perdendo as eleições mesmo terminando o governo com mais de 70% de aprovação. Numa coletiva de imprensa, uma repórter perguntou a Dante se ele achava que o povo era ingrato, já que fez um bom governo e não se elegeu ao Senado. A resposta de Dante: “eu lutei muito para devolver ao povo o direito de votar. O povo não erra e me deu quatro anos para descobrir onde eu errei”.
Tive a honra de ser amigo e de trabalhar com Dante, uma pessoa especial em todos os sentidos. Dante vive em nossos corações e mentes pelo conjunto de sua obra como homem público e como cidadão cuiabano e mato-grossense que honrou e projetou o estado em que nasceu.
- Carlos Avallone é deputado estadual e presidente do PSDB/MT. Foi secretário municipal e estadual nas gestões de Dante de Oliveira