Lançado em novembro de 2022, o ChatGPT tem se destacado no mundo da inteligência artificial (IA) por ser uma ferramenta capaz de criar textos em poucos segundos em diálogos parecidos a uma conversa humana.
Pesquisadores consultados por GZH dizem que a tecnologia não é nova, mas destacam a capacidade de diálogo e de “aprender” com os usuários. Há, porém, outro lado: os materiais elaborados pelo software não indicam fontes e podem estar desatualizados.
A tecnologia é um chatbot: uma ferramenta digital que busca responder pessoas da forma mais parecida com um diálogo humano. Ela é usada há anos por empresas no atendimento a clientes, campanha de marketing e venda de produtos. Este tipo de software pode responder perguntas pré-programadas ou criar a partir de uma inteligência artificial (como é o caso do ChatGPT).
Riscos do ChatGPT
Rafael Kunst, professor da Escola Politécnica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), testou a tecnologia com perguntas de áreas de seu interesse: 5G, inteligência artificial, educação e economia. Para ele, o destaque do ChatGPT está na “naturalidade” na conversação com o usuário.
— Imaginava que (o chat) responderia bem às perguntas, mas a questão das respostas é bastante interessante, próxima ao diálogo humano. É difícil, para leigos, que é meu caso, distinguir se aquilo foi escrito por um ser humano ou IA. Isso mostra que a tecnologia evoluiu bastante — comenta.
Eduardo Pellanda, professor e pesquisador da Escola de Comunicação, Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), diz acreditar que a ferramenta deverá ser usada como um “Google expandido”. Ou seja: funcionará como um buscador, para sanar dúvidas do dia a dia do usuário comum.
— Hoje perguntamos coisas muito específicas, sem muito contexto, tipo o nome de um hotel em algum lugar, o nome de uma personalidade. Mas, com o ChatGPT, podemos pedir conteúdos mais complexos, como “Quero um hotel que tenha uma janela para o mar e que tenha um restaurante vegetariano e ainda que algum conhecido tenha ido” — exemplifica.
Lucas Santos, autor de dois livros digitais sobre ChatGPT, define a ferramenta como o melhor chatbot com inteligência artificial da atualidade. O profissional, que ajuda empresas a utilizar IA, também destaca a interação “humanizada” propiciada pelo software. Somado a isso, o ChatGPT produz boa qualidade de conteúdo, afirma o empreendedor:
— Ele se destaca pela capacidade de análise e aprendizado, graças ao seu processamento de linguagem natural, isso o diferencia de outros chatbots. O segredo para ter a melhor experiência possível está na pergunta: quanto melhor for elaborada, melhor será a resposta. Nunca tinha visto algo tão avançado.
O que é preciso ter atenção no ChatGPT
Segundo os especialistas, diferentemente do Google, o ChatGPT não faz pesquisas na internet tampouco faz cruzamento de dados externos. Quando questionada sobre qual é a fonte das informações repassadas ao usuário, a própria plataforma não dá detalhes: “O ChatGPT usa o modelo de linguagem GPT-3 da OpenAI como sua fonte de informação. O GPT-3 foi treinado em milhões de documentos de texto para aprender a gerar texto naturalmente.”
A plataforma responde o seguinte sobre os próprios conteúdos produzidos: “Ocasionalmente pode gerar informações incorretas”, “Ocasionalmente pode produzir instruções prejudiciais ou conteúdo tendencioso” e “Conhecimento limitado do mundo e eventos após 2021”.
— O que sabemos é que essa ferramenta possui um banco de dados com informações que foram armazenadas até 2021. Então, em muitas informações, como do atual presidente do país (a plataforma informa que o atual presidente do Brasil é Jair Bolsonaro), essa inteligência responderá de forma incorreta ou desatualizada — explica Lucas Santos.
Alguns testes expõem erros. A reportagem de GZH fez a pergunta “Inter ou Grêmio?” ao ChatGPT, que respondeu desta forma: “O Inter é o time mais antigo da cidade, tendo sido fundado em 1909, enquanto o Grêmio foi fundado em 1903. Ambos têm uma longa história de rivalidade e têm conquistado títulos nacionais e internacionais. O Inter é o time que mais vezes foi campeão brasileiro, com 37 títulos.” A AI acerta na maioria das informações, como o ano de fundação dos clubes, a conquista de títulos e a rivalidade. No entanto, erra sobre quem é mais “antigo”, que, no caso, é o Grêmio, fundado em 1903, dado que consta na resposta. Outra informação errada é quanto aos títulos de campeão brasileiro do Colorado, que são três, e não 37.
Em outro momento, a mesma pergunta foi feita e teve outra réplica do software: “Inter e Grêmio são equipes de futebol brasileiras. Ambos são bem conhecidos e respeitados na comunidade do futebol, mas a preferência por um ou outro é uma questão de escolha pessoal e lealdade à equipe”. Em nenhuma resposta há indicação de qual site, livro ou notícia a inteligência artificial se baseou para responder à reportagem.
— Ter fontes das informações aumentaria a credibilidade. Todos os diálogos que vi tiveram respostas bem plausíveis dentro da minha área de conhecimento, nada fora do esperado, errado, mas, seria importante se tivesse fonte, ainda mais por conta das fake news — comenta Rafael Kunst, professor da Unisinos.
O ChatGPT também cria um debate sobre o uso de conteúdos por estudantes e pesquisadores como se fossem autorais. Instituições de ensino da Europa e Estados Unidos (EUA) já trataram de bloquear a tecnologia para impedir uso em trabalhos.
A Nature, uma das principais revistas científicas do mundo, criou regras para o uso da inteligência artificial na elaboração de materiais. A publicação não aceitará nenhuma IA como autora de uma pesquisa, fato que foi verificado em trabalhos não revisados e outros que creditaram a autoria ao ChatGPT. Além disso, quem usar a inteligência artificial na pesquisa deverá documentar a informação no texto.
— Isso não é um ponto negativo da tecnologia, é um debate ético. Cada um tem que usar da maneira correta. Se for usado da forma errada, não é um problema da ferramenta — pontua Kunst.