Se a energia solar fotovoltaica é capaz de gerar economia e qualidade de vida para famílias e negócios, é uma questão de lógica imaginar quão benéfica ela pode ser para cidades inteiras.
Sabendo que as cidades representam 75% do consumo global de energia e 80% das emissões de gases de efeito estufa, o esforço para criar cidades sustentáveis já começa a ser prioritário.
Também chamadas de cidades do futuro, ou smart cities, elas integram os compromissos prioritários da Comissão Europeia para a transformação verde dos ambientes urbanos. O projeto ganhou o nome de Missão Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras para 2030.
Além do compromisso europeu, diversos países no mundo já fundaram suas próprias cidades sustentáveis, com foco na geração de energia solar. Neste artigo, reúno três delas como exemplos para inspirar o setor ao que o futuro nos reserva.
Dezhou, China: pioneira do mundo
Localizada na província de Shandong, noroeste da China, Dezhou é a primeira cidade movida a energia solar do mundo. Com 5 milhões de habitantes, a cidade sempre foi considerada um importante centro de transportes, sendo uma das 23 estações da exclusiva linha de alta velocidade Pequim-Xangai.
O Washington Post descreve o Solar Valley de Dezhou como a “versão de tecnologia limpa do Vale do Silício”. A cidade é um exemplo de sustentabilidade pois 98% da energia consumida em Dezhou vem da energia solar. A indústria de energia solar é a maior e mais famosa da cidade.
O investimento de US$ 90 bilhões por ano no desenvolvimento de energias renováveis é uma espécie de redenção da China, afinal, é o segundo país que mais polui a atmosfera. Por ano, são emitidas 1.540,350 toneladas de dióxido de carbono na China.
O primeiro lugar pertence aos EUA, com 3,473,600 toneladas por ano. É bom ver a energia solar sendo usada como principal recurso para reverter esse cenário.
Babcock Ranch, EUA: cidade construída para ser solar
A primeira cidade movida à energia solar dos EUA fica na Flórida e deverá abrigar cerca de 50 mil habitantes quando for finalizada. O projeto está sendo construído em terras compradas pelo ex-jogador de futebol americano Syd Kitson, e anteriormente eram apenas um grande rancho. Deste terreno, Kitson vendeu a maior parte para a preservação da vida selvagem, e reservou 20% para a construção de Babcock Ranch.
O tamanho da cidade equivale à ilha de Manhattan, em Nova York. Para cumprir o objetivo de ser autossustentável, com zero emissões de gases de efeito estufa, a cidade já conta com 300 mil painéis fotovoltaicos, instalados em uma área de 440 acres.
Os painéis de Babcock Ranch geram 74,5 MW, valor suficiente para atender cerca de 15 mil residências. Além disso, essa geração de energia limpa evita o equivalente às emissões de 12 mil carros por ano.
Os imóveis devem cumprir a exigência de apresentarem certificação de construção sustentável, e seus valores começam em torno de US$ 190 mil (cerca de R$ 616 mil). Em setembro de 2022, a cidade passou pelo furacão Ian sem quedas de energia e com danos mínimos.
Fujisawa Sustainable Smart City, Japão: cidade verde movida a energia solar
O projeto da cidade japonesa é liderado pela Panasonic em parceria com outras sete empresas japonesas, e foi iniciado em resposta à demanda da população por alternativas mais seguras e sustentáveis após o desastre nuclear de Fukushima.
Com apenas 50 quilômetros de distância de Tóquio, Fujisawa SST recebeu um investimento de R$ 1,3 bilhão na fase inicial, e hoje conta com cerca de 500 mil habitantes.
Anteriormente, Fujisawa era uma cidade com problemas de degradação ambiental graças à industrialização, mas ao longo do projeto, as indústrias foram transferidas para outras regiões e a cidade passou a ser inteiramente repensada, reestruturada e reconstruída para se tornar uma cidade verde.
Sob uma visão futura de 100 anos como linha mestra, o projeto Fujisawa SST possui diretrizes para a cidade e para os projetos comunitários. No caso das iniciativas de soluções energéticas, Fujisawa equipa sistemas de microgeração e armazenamento às casas, meios de transporte e espaços públicos. Para o Japão, a energia limpa não se trata de relações públicas, mas de sobrevivência.
Como estão as cidades brasileiras?
No Brasil, ainda não temos projetos tão ambiciosos como os das cidades citadas acima. Porém, não estamos parados na transição energética, e basta olhar para os resultados anuais para ter essa comprovação.
Segundo a ANEEL, o Brasil acrescentou mais de 9 GW de potência em 2022. Isso tornou o ano histórico para o setor, pois representa um crescimento de mais de 80% em comparação com 2021.
Um município de destaque no mercado de geração distribuída foi Florianópolis, cidade que mais adicionou energia solar no Brasil em 2022. Ao longo do ano, Floripa conectou 20,4 mil novos sistemas fotovoltaicos, adicionando 314 MW. O valor é quase o dobro da segunda colocada, Brasília (DF).
Entre os estados, os que lideraram o avanço da geração distribuída em 2022 foram: São Paulo (982 MW); Minas Gerais (780 MW) e Rio Grande do Sul (743 MW). A ANEEL afirma que mais da metade da potência instalada veio de sistemas residenciais (3,74 GW).
Assim, vemos que o Brasil também se preocupa em investir em energia renovável. Ainda há muito trabalho a fazer, mas a boa notícia é que existe um gigantesco potencial de crescimento a ser explorado.
Para os colegas do setor, deixo a mensagem de que o futuro não será outro que não o sustentável. Nosso trabalho será o responsável por colocar o Brasil no mesmo caminho de países como EUA, Japão e China, e por isso, devemos nos manter focados na missão de conscientizar os clientes a respeito dos benefícios da energia solar. Que em 2023, possamos ver muito mais telhados com painéis solares em nossas cidades.
Por: Gustavo Tegon