Depois de quinze anos de carreira em grandes empresas, a engenheira de alimentos Alcione Silva resolveu empreender em um negócio social com o propósito de evitar o desperdício de alimentos e ajudar quem sofre com a fome. Assim, em 2016 surge a Connecting Food. “Percebi uma oportunidade de entrar no processo de gestão das empresas e resolver esse problema dos alimentos excedentes. A Connecting Food cresce com o modelo de negócio de impacto”, diz Alcione em entrevista à EXAME.
Para dar destino aos alimentos, é trabalho da empresa entender as políticas de doação, compliance e operacionalização das áreas onde há o desperdício. “É tudo é muito criterioso do ponto de vista jurídico, sanitário e legal”, diz Alcione. Já do lado de quem recebe os alimentos é necessário o mapeamento das instituições e treinamentos in loco para que o receptor dos alimentos esteja preparado para as retiradas e armazenamentos de modo adequado. “Há um monitoramento de fluxo, que pode ser diário ou mensal, dependendo do ponto de doação”.
Para que a operação funcione adequadamente, quando uma nova cidade ou instituição é mapeada, um agente da Connecting Food oferece o treinamento até que a própria instituição passe a retirar os alimentos do modo mais conveniente. “Os agentes são implantadores dos processos que explicam quais alimentos podem ser doados, como acondicionar os itens e mais. Essa mesma conversa acontece também com quem doa, incluindo aí outras questões técnicas, como emissões fiscais”.
Para a executiva, um dos pontos essenciais na operação é que as companhias internalizem políticas de ESG e entendam o impacto social para além da doação. “É preciso abordar nas empresas como ações de impacto social e ambiental positivo geram valor”.
No mundo, cerca de 30% dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados anualmente. Em valor, isto é cerca de 1 trilhão de dólares. No Brasil, especificamente, a companhia também auxilia na resolução de um grande problema: estima-se que 33 milhões de pessoas vivam em insegurança alimentar no país.
Com a conscientização das empresas, a Connecting Food deve ter quase 40% de aumento de faturamento em relação à 2021. Atualmente, a companhia está em 23 estados do Brasil e já complementou 14 milhões de refeições, isto é mais de 7.000 toneladas de alimentos gerenciadas para quase 400 organizações.
Parceiros
As causas para as sobras de alimentos são variadas. Pode haver um excesso de compras, mudança na aparência pela manipulação ou mesmo uma embalagem considerada fora do padrão para o comércio. Independentemente disto, se os alimentos estão apropriados para o consumo, podem ser doados. Assim, o trabalho da companhia é identificar essas causas e promover a melhor gestão.
Em um dos exemplos há a varejista Assaí como cliente. “No rápido processo de expansão, o Assaí focou em questões estratégicas e considerou o desperdício de alimentos e a sustentabilidade. Com isto, todas as novas lojas do último ano já oferece a doação”, diz Alcione.
Segundo o Assaí, neste ano, a meta é superar 2 mil toneladas em quantidade de doações de frutas, legumes e verduras. O número significa um crescimento de 65% no comparativo com o ano anterior, quando foram doadas 1,2 mil toneladas de alimentos pela empresa a partir do excedente da operação. A quantidade deste ano é suficiente para contribuir com mais de 4 milhões de pratos de comida e beneficiar quase 300 mil famílias.
O total de organizações atendidas pelo “Programa Destino Certo” também aumenta em 2022 de 116 para 200. Há também a previsão de que 185 lojas do Assaí estejam atuando em parceria com uma empresa de gestão de redistribuição dos alimentos, o que irá contribuir para alcançar a meta de 2 mil toneladas doadas.
Outra ação da Connecting Food é o movimento Todos à Mesa, em parceria com varejistas e empresas de tecnologia como o iFood. Juntas, as empresas já doaram 5.300 toneladas de alimentos. “As treze empresas participantes do movimento querem melhorar o ambiente regulatório brasileiro sobre o tema. Com a sociedade civil e a iniciativa privada a fome ganha outra relevância no país, ainda mais considerando que estamos entrando em uma nova gestão federal”, finaliza Alcione.
Por: Marina Filippe