segunda-feira,23 setembro, 2024

Da Quebrada para o Mundo: jovem cria escola de inglês para alunos de periferia

O que começou com Alexandre Ribeiro hoje é um projeto coletivo para levar oportunidades aos alunos da favela

Usar a tecnologia para combater a desigualdade é o lema do Da Quebrada para o Mundo, projeto idealizado por Alexandre Ribeiro, que nasceu e cresceu na periferia. Por meio da plataforma de ensino de inglês, ele quer dar oportunidades para que os alunos conquistem melhores chances de emprego e estudo. Hoje, Alexandre estuda na Bard College, universidade de arte de Berlim, na Alemanha.

Os primeiros passos

Até conseguir uma bolsa de estudos na Alemanha, Alexandre enfrentou com a falta de dinheiro e o preconceito. Fotografia por Lucas Sampaio/Divulgação

Para chegar onde está hoje, o caminho de Alexandre não foi fácil. O jovem começou a estudar inglês em 2014, quando era adolescente e trabalhava como menor aprendiz em um hotel de São Paulo. “Na época, minha chefe se ofereceu para pagar metade do valor do curso de inglês para mim. Assim, comecei a fazer as aulas. A outra metade eu que pagava, era todo o meu salário”, lembra. 

Enquanto aluno de escola de inglês vindo da periferia, ele sempre percebeu um certo distanciamento entre o método “tradicional” de ensino e a sua realidade. O material didático não trazia referências de seu cotidiano e o professor nem sempre tinha o “jogo de cintura” necessário para entender os alunos negros e periféricos.

Quando frequentou a escola de inglês, Alexandre percebeu que aquele ambiente não tinha sido pensado para ele. Fotografia por Lucas Sampaio/Divulgação

Além disso, o dinheiro era uma questão complicada. Quando a chefe parou de pagar o curso, Alexandre não queria deixar as aulas. Por um tempo, passou a mensalidade no cartão do tio, o que gerou brigas na família. No fim, acabou deixando o curso.

“O esquema dessas escolas é: quem tem dinheiro paga, quem não tem, cai fora. Sofri o classismo na pele, mas na época não tinha essa consciência”, recorda ele. A solução foi continuar a estudar sozinho, de forma autônoma.

Aprendendo na prática

De acordo com Alexandre, estudar inglês sozinho sendo adolescente não foi um processo fácil. “Nunca tive inglês perfeito e nunca vou ter. Mas tenho o que todo favelado tem: cara de pau”. Foi em uma praia de Salvador, se arriscando no idioma que tentava aprender, que o jovem conheceu a namorada, alemã com origem moçambicana. Pelo desejo de conversar com ela, acabou aprendendo muito na prática.

A vontade de se comunicar em inglês induziu Alexandre a arriscar, “na cara de pau”, como ele define. Fotografia por Lucas Sampaio/Divulgação

Em 2021, como era pandemia, o jovem decidiu compartilhar seus conhecimentos de inglês em seu perfil do Instagram. A princípio, a ideia era alcançar seus conhecidos, mas deu tão certo que Alexandre começou a receber cada vez mais pedidos para expandir as aulas.

Desse modo, ele criou o Da Quebrada para o Mundo, plataforma de ensino de inglês pensada para pessoas da periferia. O que começou somente com Alexandre se transformou em um trabalho coletivo e hoje é uma empresa de impacto social. Seu objetivo é ensinar o idioma pensando na realidade própria da favela, ou seja, sem ignorar as referências negras da comunidade. “Queremos que o conhecimento seja construído com liberdade, sem ignorar os outros conhecimentos, como o de rua”, explica Alexandre.

Por: ISABELA STANGA

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