O potencial de transformação de materiais recicláveis é muito maior do que normalmente imaginamos, o que para alguns de nós é visto como lixo, nas mãos certas, pode se tornar uma peça nova no guarda-roupa de alguém. Mais conhecido como PET, o poli tereftalato de etileno trata-se de um é um tipo de plástico bastante utilizado na fabricação de embalagens de garrafas, principalmente de refrigerantes. Esse material é resistente, leve, maleável e reciclável. O que muitas pessoas não sabem é que esse material pode ser transformado em roupas.
Todos os tecidos possuem uma fibra de poliéster em sua composição e o petróleo é a matéria prima principal para a produção do poliéster. Pesquisadores descobriram que é possível obter essa fibra a partir da reciclagem de garrafas PET. Dessa forma, o poliéster reciclado dá uma segunda vida a um material não-biodegradável que acabaria sendo descartado em aterros ou no oceano.
E é isso que a marca cuiabana Romanah Heart Made faz. Lançada em setembro de 2020, a marca vem promovendo a moda sustentável, consciente e livre de mão de obra análoga a escravidão. A CEO e diretora criativa da loja, Amanda Hanna, explica sobre os processos e motivações para criação da marca.
“Eu também sou proprietária do ateliê de costura Arranjos Express e foi lá que descobri a minha paixão pela costura. Depois de estar muito tempo inserida nesse ambiente comecei a pesquisar e entender sobre processos de produção em fast fashion, sobre a importância da moda circular que é feita nos brechós, sobre qualidade de peças e isso mudou a minha visão sobre a moda. Foi quando me apaixonei pela ideia da moda sustentável, em seguida eu logo passei a consumir de forma mais consciente”, relata a proprietária.
Amanda conta que durante esse período de pesquisa descobriu que uma de suas peças de roupa favoritas, as t-shirts, são feitas, em sua maioria, de uma forma nada consciente. “A maioria dos lugares as vendem por valores muito baratos e toda vez que pagamos muito barato em uma peça sabemos que por trás existe alguém pagando caro. Como mão de obra escrava ou tecidos com qualidade ruim. Comecei a ler sobre o processo e vi o quão triste é a produção de uma peça que eu gostava tanto de usar”, diz.
Infelizmente o trabalho escravo não é uma novidade no Brasil, desde o ano de 1500 a mão de obra escrava é utilizada no país. Mesmo após a abolição essa dinâmica continua presente, principalmente no setor têxtil de confecção de roupas, por meio de jornadas exaustivas e condições laborais que vão contra a dignidade humana.
Motivada pelo desejo de mudança e paixão pela moda, a jovem decidiu investir em uma empresa que pudesse oferecer opções mais sustentáveis, mas sem perder o estilo. De acordo com Amanda, são utilizados na produção das roupas tecidos feitos a partir da reciclagem de garrafas PET e algodão 100% orgânico.
O algodão orgânico trata-se daquele que é produzido com base nos princípios da agricultura orgânica, que tende a ser melhor do que a convencional, pois não faz uso de agrotóxicos e pesticidas. A marca também utiliza o algodão desfibrado, que é aquele reutilizado a partir de outras malhas. Ele é feito por meio de um processo que destece o tecido para pegar a fibra e reutilizá-la.
O ciclo de produção dos tecidos feitos com PET consiste nas seguintes etapas: coleta, seleção, lavagem e moagem, granulação, transformação em fibra, produção do fio, produção do tecido e por fim as camisetas ecológicas. Amanda diz que a principal dúvida dos clientes é sempre em relação ao processo de produção e qualidade das peças. Ela afirma que as roupas ficam mais frescas, desbotam menos, possuem uma durabilidade maior e um corte supermoderno.
“Nós compramos esses tecidos de uma fábrica especializada em realizar todo esse processo. Muita gente possui um certo preconceito em relação a parte estética, têm uma imagem distorcida de como realmente são as peças, mas a Romanah veio para mostrar que não precisamos mais escolher entre sustentabilidade e estilo. Cada lote de tecido que pegamos é único pois dependendo da cor das garrafas pode mudar um pouco o tom da camiseta, tudo isso sem perder a beleza das roupas. Além de ser consciente a qualidade também acaba ficando melhor”, diz ela.
O nome Romanah vem da junção do livro bíblico Romanos com a letra inicial do segundo nome da proprietária.
Até o momento, a loja é voltada para o seguimento de moda feminina e masculina. As peças estão sendo vendidas apenas de forma online, mas a proprietária confirma que em breve terá um espaço físico oficial da Romanah, onde o cliente poderá ter acesso ao processo de produção.
Por: Victória Oliveira