A China enfrenta a pior seca da sua história recente e, para combater o problema – que tem provocado escassez de eletricidade, paralisação na produção de fertilizantes, impactos nas lavouras e muitos transtornos para as empresas e os moradores – o governo está recorrendo à tecnologia.
Dentre as soluções empregadas está o uso de produtos químicos para causar artificialmente a liberação de chuva das nuvens, processo conhecido como semeadura de nuvens. Junto com o lançamento de foguetes carregando uma carga de hastes de iodeto de prata destinadas a iniciar a chuva, as autoridades do país também enviaram drones aos céus para disparar chamas de iodeto de prata na atmosfera na esperança de provocar precipitação.
Segundo o portal Wired, ainda não está claro o quão eficazes são essas tentativas. “Se você semear uma nuvem e observar quanta chuva ou neve recebe, não sabe o quanto teria obtido se não a tivesse semeado”, disse Adele Igel, chefe do grupo de Física de Nuvens da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, observando como é difícil para os cientistas saber se a semeadura de nuvens realmente funciona.
A especialista apontou para uma revisão de 2019, na qual os autores descobriram que certas formas de semeadura de nuvens podem aumentar a precipitação em até 20% quando direcionadas a nuvens de inverno em áreas montanhosas. “A ideia do iodeto de prata é que ele ajuda a formar novos cristais de gelo ou flocos de neve na nuvem”, explicou. “Esses flocos de neve adicionais devem então crescer e cair mais facilmente como precipitação. No entanto, não há consenso sobre se a semeadura de nuvens funciona durante o verão, quando há pouco ou nenhum gelo nas nuvens.”
Outro ponto é que é preciso ter nuvens para realizar esse procedimento e, durante eventos de calor extremo, como o que está ocorrendo na China, elas podem ser escassas, já que há menos água no solo para evaporar na atmosfera acima.
Transferência de água e desenvolvimento de culturas resistentes
Para combater a seca, o país oriental tem mais planos em andamento. Um deles é o Projeto de Desvio de Água Sul-Norte, um esforço de engenharia para construir canais e túneis que transportarão água do sul para o norte. O custo total estimado é de US$ 62 bilhões (aproximadamente R$ 321,6 bilhões).
Mas há riscos nessa operação. “Você pode realmente agravar a situação da seca”, relatou Gabriel Collins, do Instituto Baker de Políticas Públicas da Rice University. Ele argumentou que as transferências excessivas de água no futuro podem levar duas grandes áreas do país a ficarem propensas à escassez sazonal, em vez de apenas uma.
Para Gopal Reddy, fundador da Ready for Climate, uma organização de pesquisa ambiental, o problema estrutural da falta de água na China é mais assustador do que a seca desta temporada. Ele observou que o país tem reservas de água subterrânea utilizáveis limitadas – aproveitadas para aliviar a seca – e que já estão superexploradas, principalmente na região norte.
Encher as reservas é, em princípio, uma boa maneira de planejar com antecedência a seca. O The Wired indica que a nação oriental tem uma enorme capacidade nessa área e pode estar construindo reservatórios para reter mais água da chuva nas fazendas ou plantando vegetação que seja boa para reter a umidade.
Além disso, o governo chinês tem investido pesado no desenvolvimento de culturas resistentes à seca. Recentemente, aprovou o uso de sementes de soja resistentes à estiagem. E, em breve, espera-se que a tecnologia seja estendida à engenharia genética de trigo e arroz.
“Todas essas intervenções podem contribuir para melhorar as chances da China na batalha contra a seca. Mas a ameaça de condições cada vez mais áridas, impulsionadas pelas mudanças climáticas, é grande”, destaca Aiguo Dai, da Universidade Estadual de Nova York. Sendo assim, o The Wired complementa que “é possível que algumas áreas do país, particularmente as do norte, possam ter mais precipitação nos próximos anos. Mas se a tendência geral levar a condições mais quentes e secas em locais incapazes de se adaptar rapidamente à escassez de água, as coisas ficarão muito difíceis”.