Cerca de 50 anos depois da missão Apollo, os americanos voltaram seus interesses à Lua mais uma vez, com a missão Artemis I, que estava prevista para ser lançada nesta segunda-feira (29).
“Ficou claro que a Lua é a nossa porta de saída para explorar o resto do sistema solar”, afirmou o professor do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP) Roberto Costa, em entrevista à CNN Rádio. “A tecnologia desenvolvida nessa viagem à Lua vai ser usada na próxima década por uma missão tripulada a Marte”, explicou.
De acordo com o professor, a Artemis I tem como objetivo fazer uma série de testes: no veículo lançador, na nave que vai até a Lua, nas manobras orbitais, na volta para a Terra, na reinserção na atmosfera e no pouso. Posteriormente, ela projeta levar astronautas ao satélite e estabelecer uma base espacial por lá.
Mas a missão não passou nem mesmo na primeira prova. Um problema inesperado em um dos motores fez com que a Nasa cancelasse o lançamento. Ele deveria acontecer entre as 9h33 e 11h33, no horário de Brasília. “Equipes continuarão a coletar dados e manteremos vocês informados sobre o horário da próxima tentativa de lançamento”, escreveu a Nasa no Twitter.
A equipe descobriu um problema durante o processo de sangrar o ar em um dos quatro motores do foguete e trabalhava para reconfigurá-lo. Até a última atualização, os esforços não obtiveram sucesso.
O cancelamento do lançamento, porém, não minimiza a importância dessa missão. Segundo o professor Roberto Costa, o programa Artemis mostra que a Lua é vista como um local “permanente que servirá de ponto de apoio” para a exploração do sistema solar.
E essa exploração pode ser tanto científica, quanto econômica. Costa lembrou que levantamentos sobre a superfície lunar indicam a presença de minério. “A Lua desperta interesse comercial”, afirmou.
E, atualmente, essa disputa pela corrida espacial não se dá apenas entre países, como ocorreu durante a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Agora, há também as empresas privadas, como as de Jeff Bezos e de Elon Musk, que têm como objetivo o turismo espacial.
“Não é mais um cenário de exploração espacial exclusivamente financiada por recursos públicos de fundo perdido, ou seja, foi com o dinheiro para lá e [o dinheiro] sumiu, volta com o desenvolvimento tecnológico. Agora não, existem empresas privadas que têm outras filosofias, precisam ter retorno para as atividades continuarem avançando. Já se pensa na exploração comercial tanto do espaço, quanto da Lua”.
Há, ainda, outros jogadores em campo, ou melhor, no espaço. “Os chineses sem dúvida são atores muito importantes. Eles estão construindo uma estação espacial. Partes dela já estão em órbita e ela estará operando até o final da década. E tem outros países que não tinham tradição de exploração espacial, mas que estão enviando sondas automáticas, como é o caso da Índia, Japão e Emirados Árabes”, afirmou.
Questionado sobre se é mais fácil ir à Lua hoje do que na época da missão Apollo, o professor Roberto Costa explicou que, em termos de tecnologia sim, mas “não quer dizer que seja mais rápido.
“O tempo de voo é o mesmo tempo da Apollo, mas a tecnologia é completamente diferente. Os computadores de bordo da Apollo eram muito menos potentes em termos de capacidade de processamento do que um relógio digital que nós compramos hoje em dia. Então, existe um enorme desenvolvimento tecnológico”, concluiu ele.
Por: Nicole Fusco e Bel Camposda CNN