As luzes se acendem e uma voz calma avisa que é hora de acordar e esticar o corpo. Não, não é nenhum colega de quarto, e sim o sistema inteligente da casa. Ele acompanhou como foram as horas de sono do morador e viu que o dia terá muito sol, então logo recomenda um café da manhã com suco de laranja e uma opção de roupas frescas.
Qualquer informação pode ser encontrado dentro do espelho do lar; toda tecnologia, monitorada por um tablet da Samsung e, o morador, acompanhado por um smartwatch conectado às duas tecnologias. É essa a realidade que a Eco Delta Smart City está criando em Busan, na Coreia do Sul.
Para construir uma cidade inteligente do zero, 54 famílias diferentes consentiram oferecer todos os seus dados, desde frequência cardíaca até volume de lixo produzido, dentro de uma casa inteligente onde vão morar pelos próximos três anos.
As famílias foram escolhidas através de um sorteio para ficar no Eco Delta Smart Village. Ainda em fase experimental, a meta é que a região um dia tenha 30.000 casas em 11,8 quilômetros quadrados na região do rio Nakdong, um custo de aproximadamente 5,6 bilhões de dólares (cerca de 25 bilhões de reais).
A construção da Eco Delta Smart Village de Busan é uma das maiores tentativas na criação de uma “cidade inteligente”, mas ela não é a única. A Toyota está construindo Woven City, no Japão, para estudar novas tecnologias de IA, e já desenvolveu um robô de limpeza que fica suspenso no teto e outras tecnologias para casa.
Mas Busan é diferente porque está começando do zero, possibilitando a criação de uma cidade mais abrangente.
“Não será em breve, mas no futuro planejamos ter um modelo padrão de cidade inteligente e exportá-lo para o mundo”, disse Lee Jae Min, vice-diretor do projeto de cidade inteligente do Ministério da Terra, Indústria e Transporte ao New York Times.
Como funcionam a casa e a cidade?
O projeto de Busan está em fase experimental. Por enquanto, ele irá avaliar como os sul-coreanos vão viver na cidade inteligente, mas também como o governo e o setor privado podem criar infraestruturas eficientes com energia solar e hidrelétrica, além de outros aparelhos que beneficiam o meio ambiente.
As 54 residências que compõem a vila inteligente variam entre casas de um a três quartos. As famílias, escolhidas por sorteio, pagam somente por luz e água, e não o aluguel. Eles fecham um contrato de três anos em troca dos dados coletados e podem estender a moradia por mais dois anos.
Mesmo pertencendo a Busan, a vila eventualmente terá seu próprio tratamento de esgoto, água e eletricidade por meio de energia solar e hidrelétrica, com paineis solares em cada casa. A água potável virá do rio Nakdong e será filtrada com tecnologia de ponta, e todos os espaços verdes serão regados com água de esgoto reciclada.
Por último, a empresa promete que drones serão responsáveis pela entrega de pacotes e pequenos robôs vão limpar e monitorar as ruas por segurança.
Como funciona a tecnologia?
Um espelho de um metro de altura e um tablet da Samsung são essenciais para o funcionamento da casa inteligente.
Ao ativar o espelho com um toque, o mesmo se torna uma tela futurista onde é possível monitorar quase todos os aspectos da própria saúde, desde frequência cardíaca até o quão bem foi a noite de sono anterior; pegar sugestões sobre alimentação e exercícios para o dia; conferir o clima e as notícias do dia.
Já o tablet Samsung funciona como um sistema operacional, no qual é possível ver quais aparelhos estão funcionando, quanta energia está sendo consumida, se há um pacote no correio e até quando alguns alimentos na geladeira estão prestes a expirar.
Além disso, todo inquilino tem um smartwatch sincronizado com o espelho e o sistema geral da casa. “Ele monitora seu corpo e avalia você constantemente. É obrigatório que todos usem relógio durante os três anos”, disse Kim Do-Gyun, gerente geral da K-Water, afiliada do governo que ajuda no desenvolvimento do Eco Delta Smart Village.
“Às 7 da manhã, a luz do meu quarto acende automaticamente e um alto-falante diz: ‘Oi, Song-Lee, bom dia. Por favor, estique seu corpo'”, conta uma das moradoras ao New York Times. “E algumas semanas atrás, queimamos algo na cozinha e o sistema de filtro de ar o removeu imediatamente. O sistema percebeu que algo estava errado e lidou com isso. É uma casa pensante.”
“Quando o experimento de três a cinco anos terminar e a cidade ficar mais ocupada, não estudaremos mais as informações, mas a tecnologia nessas casas será a mesma”, disse o vice-diretor. “Todos os atuais inquilinos sabem o quanto é importante fornecer essas informações.”
Os moradores são essenciais, explicam os planejadores do projeto, já que suas rotinas diárias, quanto gastam de energia e outros dados são essenciais para conceber as cidades do futuro.
As informações serão estudadas por desenvolvedores, fabricantes de eletrodomésticos, o governo e especialistas em saúde.