O governo de São Paulo afirmou que está em negociações para produzir vacinas contra a monkeypox, também conhecida como varíola dos macacos, no Instituto Butantan, segundo declarou o secretário da Saúde do estado, Jean Gorinchteyn, nesta sexta (29).

Até esta quinta-feira (28), o estado de São Paulo registrou 818 casos confirmados de monkeypox, 672 deles só na Grande São Paulo.

De acordo com Gorinchteyn, o governo estadual está negociando a transferência de tecnologia com a empresa dinamarquesa que, atualmente, é a principal fabricante de vacinas contra a varíola dos macacos em todo o mundo.

“Estamos em tratativas junto a essa empresa dinamarquesa. Nós gostaríamos que, o mais breve possível, essas tratativas fossem encerradas no sentido de nós termos essa transferência de tecnologia para o Instituto Butantan, que tem a capacidade de produção de milhões de doses. Isso seria uma proteção não só para o estado de São Paulo e o país, mas também para todo o mundo”, disse Gorinchteyn nesta sexta.

Secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, em entrevista em seu gabinete na Zona Oeste de São Paulo, em dezembro de 2021 — Foto: Patrícia Figueiredo/g1

A empresa Bavarian Nordic já fechou contratos para a venda do imunizante para países da União Europeia e para os Estados Unidos.

Questionada pela reportagem sobre as negociações com o governo paulista, a Bavarian Nordic não respondeu até a última atualização desta reportagem.

Casos em crianças

A Prefeitura de São Paulo confirmou, na noite desta quinta-feira (28), três casos de monkeypox, a varíola dos macacos, em crianças. São duas meninas de seis anos de idade e um menino de quatro anos. Esses são os primeiros casos registrados em crianças na capital.

Segundo o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Zamarco, os menores apresentaram bolhas na pele (vesículas), dilatação nos gânglios e febre. Todos estão em suas residências, sendo monitorados.

Pela investigação já realizada pelas secretarias estadual e municipal da Saúde, uma das meninas teve contato com um parente que estava com a doença. Já os outros dois casos seguem sob análise para verificação da origem das infecções.

No estado, também houve o diagnóstico de três adolescentes, de 13 e 14 anos, com a varíola dos macacos. Dois são residentes da capital e um de Osasco, na Grande SP. De acordo com o secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do estado, David Uip, a origem epidemiológica desses casos segue em investigação.

Na manhã desta sexta-feira (29), o Ministério da Saúde confirmou a primeira morte por varíola dos macacos no Brasil. O óbito foi registrado em Uberlândia (MG) na quinta; o paciente era um homem com baixa imunidade (veja mais no vídeo abaixo).

Ministério da Saúde confirma 1ª morte por varíola dos macacos no Brasil
Ministério da Saúde confirma 1ª morte por varíola dos macacos no Brasil

Transmissão

No Hospital Emilio Ribas – referência para o diagnóstico e tratamento da varíola dos macacos na capital, de 30 a 40 pessoas têm buscado atendimento por dia para fazer o teste e saber se estão com a doença.

O infectologista Mario Gonzalez alerta, porém, que a contaminação pode acontecer antes mesmo de qualquer sintoma aparecer.

“Algumas pessoas já podem transmitir um pouco antes de apresentar sintomas, de 4 a 8 horas antes dos sintomas, das lesões de pele, já podem estar transmitindo. O que estamos observando é que há espectro de sintomas e lesões. Pode variar de lesão única na pele a milhares de lesões na pele. Tem pessoas que têm algo muito leve e por conta disso nem cancelam os compromissos que elas têm, vão a festas, bares, fazem encontros íntimos, mantêm relações com outras pessoas e podem continuar transmitindo.”

Quando as lesões surgem, elas parecem espinhas ou bolhas e podem ser acompanhadas de ínguas – que são os gânglios inchados – febre, dor no corpo.

E apesar do nome, a doença não é transmitida pelo macaco, de acordo com Rafael Rossato, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros/Icmbio.

“Só tem esse nome porque foi descoberta a primeira vez o vírus em um macaco em um laboratório, e o macaco só é mais um animal acometido pela doença. A transmissão tem ocorrido de pessoa para pessoa, os macacos só tem levado a fama no nome mesmo. É problema para os macacos porque aí por falta de informação, desconhecimento, muitas vezes esses animais são agredidos, expulsos ou até mortos. Isso aconteceu muito com a febre amarela também.”

A doença pode ser transmitida pelo compartilhamento de objetos contaminados, como xícaras, toalhas, roupa de cama. Mas até agora, de acordo com os especialistas, a principal forma de contágio tem sido pelo contato físico prolongado com alguém contaminado.

“Uma prevenção importante seria evitar contato íntimo ou relações sexuais com pessoas desconhecidas, com múltiplos parceiros. A outra coisa importante é que quem está com lesões deve se isolar, passar pelo médico e, se positivo, manter isolamento pelo tempo necessário, que é até a cicatrização das lesões”, afirma Gonzalez.

O Ministério da Saúde informou que os testes para diagnóstico estão disponíveis e que articula com a Organização Mundial da Saúde as tratativas para aquisição de vacinas.

A pasta ressaltou que a recomendação da OMS para vacinação, até agora, é somente para quem teve contato com casos suspeitos e profissionais da saúde com alto risco de contrair a doença.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui