Que o agronegócio é uma das potências do nosso país, responsável por boa parte da economia brasileira há muitos anos, não é novidade para ninguém. Em 2021, o setor alcançou a participação de 27,4% no PIB brasileiro, o maior índice em quase 20 anos – percentual esse que representa mais de R$ 2 trilhões.
No entanto, transformar um pedaço de terra em uma lavoura lucrativa não é tão simples quanto parece. Isso porque a produção agrícola não depende apenas do trabalho pesado do agricultor, mas também de tempo bom, sol na medida, chuvas e fertilizantes e, é claro, um pouco de sorte. Com isso, você pode estar se perguntando: investir no agronegócio vale a pena mesmo?
Antes de mais nada, é importante entender que apesar de ser um setor em constante crescimento, a sua presença na Bolsa de Valores (B3) ainda é tímida. Para se ter uma ideia, o Ibovespa existe desde 1968, mas foi apenas em maio deste ano (2022), que a B3 lançou o primeiro índice de ações de empresas ligadas ao agro, o IAGRO.
Mas, afinal, por que o agronegócio está tão em alta e como começar a investir nesse setor para diversificar a sua carteira de investimentos? Entenda tudo sobre o agro no Brasil e confira a resposta para essas perguntas a seguir:
A alta das commodities
O maior centro financeiro do país não está de olho no agro à toa. O interesse dos investidores começou, principalmente, a partir da disparada dos preços das commodities. A saca da soja, o grão mais produzido e vendido no Brasil, já ultrapassa os R$195 (cotação de 27/07), uma das maiores cotações da história. E o mesmo acontece com o boi gordo, o algodão, o milho e o trigo, por exemplo.
Segundo relatório mensal da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Índice de Preços de Alimentos, que acompanha as mudanças mensais nos preços internacionais de uma cesta de commodities alimentares, permaneceu 22,8% maior em maio de 2022 se comparado a maio de 2021.
E os motivos são variados: a Guerra da Rússia contra a Ucrânia (que afetou a oferta mundial de trigo), a onda de calor na Índia (que levou à quebra nas safras), a seca no sul do Brasil e, também, a alta do preço dos fertilizantes e dos insumos agrícolas.
Esse cenário gerou, para os investidores, uma grande oportunidade de diversificarem as suas carteiras, ao mesmo tempo em que investem em um setor com crescimento constante e preços muito atrativos.
Como investir no Agronegócio brasileiro, na prática?
Até pouco tempo, o investidor pessoa física conseguia investir no agronegócio através de LCAs de bancos ou CRAs. Hoje, já existem diversas outras opções que permitem investir em produtos ligados ao agro com pouco dinheiro, sem que você precise colocar o ‘pé na terra’.
Na renda variável, uma das formas mais diretas de investir no agronegócio é através da aquisição de ações de empresas que atuam no ramo, já que muitas delas têm se inserido no mercado tradicional através da bolsa de valores.
Em 2021, uma nova forma de investir chamou a atenção dos compradores: o Fiagro. Funcionando de forma semelhante aos FIIs, o Fiagro é um fundo que investe nas cadeias produtivas da agroindústria, tanto em imóveis ligados ao setor, quanto na própria atividade (isento de IR e com distribuição de dividendos).
Em maio de 2022, a B3 criou também o índice IAGRO B3, o primeiro índice brasileiro com 32 ações de empresas ligadas ao setor. Hoje, o investidor também consegue comprar ETFs de agro como o AGRI11, do Banco do Brasil, e o BTRA11 e BTAL11 do BTG Pactual.
1. Setor de insumos
Em 2021, uma rodada de IPOs trouxe empresas do setor de insumos (sementes, defensivos e fertilizantes) como a Boa Safra (SOJA3), a AgroGalaxy (AGXY3) e a 3Tentos (TTEN3) para a bolsa de valores. Com uma pegada tech de aquisição de novas empresas e escalabilidade, a AgroGalaxy, por exemplo, faturou R$ 3,14 bilhões no 1º tri de 2022, um aumento de 160% em relação ao mesmo período do ano passado. A grande vantagem do setor é que, diferente dos negócios de plantio, a exposição aos ciclos do agro é muito menor.
2. Plantio
Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), quase 55% dos hectares destinados à produção de grãos no Brasil são plantados com soja. A ocupação é seguida por milho, trigo, feijão, algodão e arroz. Na bolsa de valores, existem apenas duas empresas que atuam na produção de grãos: BrasilAgro (AGRO3) e SLC Agrícola (SLCE3).
Por ser uma produção cíclica (a colheita da soja é em fevereiro, as lavouras de trigo são colhidas entre setembro e outubro, a cana-de-açúcar, entre abril e setembro etc), ambas as empresas precisaram se reinventar para manter a rentabilidade da produção ao longo de todo ano – e estão colhendo bons resultados.
3. Carnes, cana e papeleiras
Apesar de não ser o primeiro a ser lembrado quando o assunto é agro, o trio: carne, cana e papeleiras tem chamado atenção da bolsa de valores há bons anos. Neste grupo, estão gigantes como a JBS (JBSS3), que dependem do campo (produção de animais e safra dos componentes da ração), mas não participam da criação dos animais. Junto com a Marfrig, a JBS está entre as 4 maiores empresas do setor nos EUA.
Buscando empresas que gerassem caixa e resistissem aos ciclos de crédito mais caro, o BTG Pactual elaborou uma lista de 12 empresas recomendadas. Entre elas estão JBS e Suzano.
Conheça 6 ações recomendadas do agronegócio para se ter na carteira
De acordo com um levantamento de 28 carteiras recomendadas de julho – de instituições financeiras, bancos, corretoras e casas de análises – 6 empresas foram as mais citadas no setor agro. Segundo analistas, os papéis recomendadas foram:
- JBS (JBSS3): empresa do setor de produção de alimentos, principalmente no processamento de bovinos, suínos e frangos;
- Suzano (SUZB3): empresa de papel e celulose, localizada em São Paulo, considerada a maior produtora global de celulose de eucalipto;
- SLC Agrícola (SLCE3): produtora brasileira de soja, milho e algodão, que também trabalha com criação de gado, fazendo a integração lavoura-pecuária;
- Cosan (CSAN3): empresa brasileira com negócios nas áreas de açúcar, álcool, energia, lubrificantes, e logística;
- Klabin (KLBN11): empresa produtora e exportadora de papéis, com foco na produção de celulose, papéis e cartões para embalagens, embalagens de papelão ondulado e sacos industriais;
- Minerva Foods (BEEF3): empresa comercializadora de carne in natura, couros e derivados, exportadora de gado vivo e processadora de carnes.
Por: EXAME