Uma equipe de cientistas da Universidade de Yale descobriu como as bactérias intestinais podem acabar nos causando doenças mesmo após anos vivendo em nossos corpos sem causar quaisquer problemas. Os micróbios que habitam o intestino ajudam a manter a saúde humana, mas podem desencadear doenças como síndrome metabólica, inflamações, distúrbios autoimunes e até mesmo problemas neuropsiquiátricos.
A hipótese mais aceita é a do “intestino permeável”, que faz referência ao escape de bactérias prejudiciais do intestino, o que causaria uma resposta inflamatória crônica que pode contribuir para uma série de doenças em outras partes do corpo. Até agora, no entanto, não se sabia como esses patógenos em potencial poderiam ficar no corpo de pessoas saudáveis por tanto tempo sem consequências.
Como as bactérias intestinais evoluem
Publicado no dia 13 de julho na revista científica Nature, o estudo dos pesquisadores de Yale descreveram como as bactérias conseguem evoluir ao longo do tempo, se tornando mais patogênicas e ganhando a capacidade de migrar através da barreira intestinal, sobrevivendo em órgãos diferentes e causando inflamações crônicas e problemas associados.
A genética dos micróbios foi estudado ao implantá-los em camundongos desprovidos de germes, uma espécie que não tem micróbios próprios nos intestinos. Os microorganismos implantados se dividiram em duas populações diferentes: uma se comportou como seus ancestrais da cepa original, enquanto a outra sofreu mutações no DNA que permitiu sua sobrevivência fora da mucosa intestinal, nos nódulos linfáticos e fígado, após sair do órgão.
Ao contrário de patógenos tradicionais, que provocam uma resposta imune e limpeza rápida, essas colônias de bactérias realocadas ficam parcialmente escondidas nos órgãos, evitando a atenção do sistema imune, ao menos temporariamente. Com o tempo, elas acabam causando patologias inflamatórias, como doenças autoimunes.
Esse fenômeno explica, em partes, porque algumas pessoas as carregam sem ficar doentes e porque o risco de tais doenças aumenta com a idade, segundo os cientistas. Além disso, a equipe descobriu fatores ambientais que podem influenciar no fenômeno, chamado de “evolução no hospedeiro”.
Uma dieta saudável, por exemplo, ajuda a diversificar as comunidades bacterianas do intestino, fazendo com que os micróbios tenham de competir por espaço e recursos e limitando a população de espécies específicas, diminuindo a chances de variantes perigosas surgirem e escaparem do órgão. Dietas menos saudáveis permitem o surgimento de nichos bacterianos, aumentando o risco de patógenos evoluírem.
As bactérias, segundo os cientistas, são pré-adaptadas para viver nos órgãos fora do intestino, e começam o processo evolutivo do zero em cada hospedeiro porque a transmissão majoritária entre hospedeiros ocorre entre cepas não-patogênicas. Entender o papel da evolução no hospedeiro e sua influência no comportamento bacteriano poderá ajudar a criar tratamentos terapêuticos para modificar esse processo e prevenir doenças associadas ao intestino permeável.
Fonte: Nature
Por: Augusto Dala Costa