quinta-feira,10 outubro, 2024

Arquitetura regional resguarda a memória cuiabana ao longo dos anos

Uma das diversas maneiras de contar a história de uma cidade é
por meio do desenvolvimento urbano e arquitetônico. As casas, prédios e demais construções antigas resgatam a memória dos municípios e, em Cuiabá, isso não seria diferente. Os famosos casarões já tombados como patrimônio estadual trazem características históricas que compõem a paisagem urbana da capital.

Características históricas
O arquiteto, professor e coordenadordo curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ricardo Silveira Castor, relata que há vários estilos arquitetônicos presentes nas
edificações históricas de Cuiabá, dentre elas estão: construções coloniais, neoclássicas, ecléticas, neocoloniais, art déco, barroco ou rococó presente nos retábulos das igrejas.

“As casas mais simples e antigas seguem o padrão colonial, com paredes de adobe ou taipa, portas e janelas de madeira, telhados e beirais aparentes, pouca ou nenhuma ornamentação. Durante o século XIX, imigrantes europeus construíram edificações com traços clássicos e com outros estilos históricos, dando origem ao ecletismo, definido, justamente, por essa mistura de estilos do passado. Na Era Vargas, além do Art Déco, surgiram obras importantes em neocolonial, como os então denominados Grande Hotel, Residência dos Governadores e o Quartel 16 BC”, explica.

Residência dos governadores – Foto: SECEL

Ricardo também aponta que a geodiversidade da capital afeta
diretamente a arquitetura da cidade. Segundo ele, as construções antigas de Cuiabá têm relação estreita com a paisagem natural que a cerca. O chamado centro histórico, por exemplo, tem seus limites e arruamento definidos pelo córrego da prainha e pelo relevo que acompanha suas margens. A ligação com o Rio Cuiabá e seu porto fluvial foi igualmente crucial na definição da malha urbana, suavemente acomodada aos contornos da paisagem, as praças, monumentos políticos e religiosos estão estrategicamente posicionados nas elevações do terreno.

“As igrejas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho e Nossa Senhora da Boa Morte e da Glória, para ficar apenas nos exemplos da arquitetura sacra, dominavam simbolicamente a antiga Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, do alto dos morros homônimos que lhe garantiam presença e visibilidade. Pedras que afloram na região foram usadas nas fundações, como a pedra canga e a cristal, no calçamento das ruas”, diz.

De acordo com o professor, a manutenção desses espaços é
responsabilidade dos proprietários. Nos casos de obras tombadas,
reconhecidas pelo poder público como patrimônio cultural e protegidas
como tal, os proprietários devem zelar pela manutenção das características originais das obras, sob a supervisão e o apoio institucional dos órgãos responsáveis pelo tombamento, estejam eles em nível federal, com supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), estadual ou municipal.

É possível valorizar as singularidades regionais de uma cidade que busca se tornar mais inovadora e tecnológica? Bom, segundo Ricardo, é possível sim. Essa valorização se faz necessária, em locais dotados de riquezas históricas e naturais, como Cuiabá e o estado de Mato Grosso de forma geral. É preciso superar a noção equivocada de que investimentos em patrimônio histórico visam apenas a preservação, a manutenção do que já existe.

Sabe-se hoje que a preservação só é viável quando gera riqueza, emprego e desenvolvimento. A cultura patrimonial não pode ser apenas contemplativa, mas produtiva, no sentido de gerar benefícios à sociedade que a detém, elevar a qualidade dos serviços urbanos, o turismo, a inclusão e a justiça social, afirma o coordenador.
Referente à importância do fomento da educação patrimonial, Ricardo
comenta:

“Recuperar a qualidade urbana e ambiental do centro da cidade, pensado como um todo e não como um somatório de monumentos
isolados, deveria ser a primeira e mais poderosa lição de educação
patrimonial. Sem ações concretas nesse sentido, toda estratégia
de conscientização e educação patrimonial torna-se limitada, senão
completamente inócua”

Por: Victória Oliveira

Victória Oliveira
Victória Oliveirahttp://www.360news.com.br
Victória Oliveira é jornalista e estudante de cinema integrante do time 360 News. Especialista em escrever sobre atualidades, tecnologia, cultura e entretenimento.

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