segunda-feira,25 novembro, 2024

Trio de arquitetos cria empresa e desenvolve projetos com artesanato e materiais recicláveis em São Luís

As definições de empreendedorismo encontradas nos dicionários de língua portuguesa são categóricas quanto ao seu caráter transformador: empreender é projetar situações inovadoras de mercado e idealizar, em empresas ou companhias, ferramentas que tornem dinâmicos os ambientes comerciais.

Os pequenos negócios – definidos a partir de critérios de rentabilidade e quadro de funcionários – representam uma movimentação significativa na economia do Maranhão e do país, além de um alento, considerando a taxa média de desemprego observada na economia brasileira.

Em 2021, dados de um levantamento feito pela Junta Comercial do Maranhão (Jucema) indicaram que pequenos negócios foram responsáveis por 83% dos postos de trabalho no Maranhão. A situação positiva na criação de empregos representou uma esperança diante dos números desoladores registrados no estado durante a pandemia: em 2020, o Maranhão ocupou a 7ª colocação no ranking dos estados da federação com as piores taxas médias de desemprego, com 15,9% da população sem trabalho.

Microempresas alavancam a economia no Maranhão
Microempresas alavancam a economia no Maranhão

Apesar das adversidades que se anunciaram no ambiente de mercado, em todo o estado, pequenas empresas ascenderam, em ramos diversos. O escritório de arquitetura Morá, gestado ainda em 2019, pelos arquitetos Lucas Nogueira da Cruz Martins, Ingrid Granja Cutrim e Linda Simão Marques é parte deste fenômeno de readaptação dos métodos de trabalho, com inquietude empreendedora, aliando as novas referências na área da arquitetura, para São Luís, com um posicionamento ostensivo no ambiente digital.

Em entrevista ao g1 Maranhão, Lucas Nogueira da Cruz, arquiteto, de 28 anos, graduado pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) comentou sobre a iniciativa de seu pequeno empreendimento, concebido após experiências que o ajudaram a consolidar o desejo em contribuir para o cenário de produções arquitetônicas – em casas, espaços de trabalho e ambientes comerciais –, na capital. O processo integrado entre arquitetura e meios digitais, observado durante a graduação, foi a base para a formação de seu ideário.

“NOSSO PRINCIPAL MEIO DE DIVULGAÇÃO DESDE A ABERTURA DO ESCRITÓRIO FORAM AS REDES SOCIAIS. POR MEIO DO MUNDO DIGITAL, A GENTE CONSEGUIU SE APROXIMAR DOS NOSSOS CLIENTES E CAPTAR NOVOS SEGUIDORES. COMO NOSSOS SERVIÇOS E PRODUTOS ENVOLVEM CRIATIVIDADE, A DIVULGAÇÃO DOS PROJETOS É FUNDAMENTAL. POR MEIO DO AUDIOVISUAL A GENTE CONSEGUE EXPLICAR COMO NOSSOS SERVIÇOS FUNCIONAM, QUAIS SÃO AS ETAPAS DE UM PROJETO, ALÉM DE CONSEGUIR CONTAR AS HISTÓRIAS POR TRÁS DE CADA PROJETO”, DISSE.

O começo no mercado maranhense

O escritório de arquitetura Morá veio a reboque da parceria, ainda durante a faculdade, de Lucas Nogueira da Cruz, Linda Simão Marques e Ingrid Granja Cutrim. Colecionando, entre alguns tropeços naturais dos primeiros anos atuando na área, experiências individuais, a parceria, afinada também em amizade, ganhou vez nos negócios. No início, familiares e amigos toparam credenciar o sonho em formação, durante as primeiras ideias. A ação de pessoas próximas é natural e esperada, em se tratando de pequenas empresas realizando os seus projetos iniciais.

“O PRINCIPAL DESAFIO NO NOSSO PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO, ENQUANTO UMA EMPRESA NOVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ARQUITETURA, FOI SEM DÚVIDAS A CAPTAÇÃO DE CLIENTES QUE ACREDITASSEM E CONFIASSEM NO NOSSO POTENCIAL CRIATIVO E NA EXPERIÊNCIA QUE A GENTE OBTEVE COM OS ESTUDOS, ESTÁGIOS E OUTROS ESCRITÓRIOS EM QUE TRABALHAMOS ANTES DE ABRIR A MORÁ. DEVIDO A ISSO, LOGO NO INÍCIO, NOSSOS PRIMEIROS CLIENTES FORAM PESSOAS MAIS PRÓXIMAS, E DAS NOSSAS FAMÍLIAS, QUE NOS AJUDARAM A INICIAR UM PORTFÓLIO E A TRANSMITIR A SENSAÇÃO DE SERIEDADE E CREDIBILIDADE PROS OUTROS CLIENTES”, EXPLICOU.

Um dos primeiros projetos desenvolvidos pelo grupo Morá — Foto: Arquivo pessoal

Um dos primeiros projetos desenvolvidos pelo grupo Morá — Foto: Arquivo pessoal

Com as ideias a postos, logo após o fim da graduação, os três empresários projetaram ações de trabalho mais intensas em 2020. Contudo, a pandemia da Covid-19, pegou a todos de surpresa, repercutindo em uma mudança de planos do escritório Morá frente aos desafios que se insinuavam em um momento de instabilidade, dores e incertezas.

“NA PANDEMIA PASSAMOS POR UM PROCESSO DE ADAPTAÇÃO NO NOSSO MÉTODO DE TRABALHO. LOGO NO INÍCIO, FICAMOS UM TEMPO COM OS SERVIÇOS EM PAUSA PORQUE COSTUMÁVAMOS VISITAR OS LOCAIS PARA TIRAR TODAS AS MEDIDAS NECESSÁRIAS E TER UMA CONVERSA MAIS PRÓXIMA COM OS CLIENTES”, CONTOU LUCAS NOGUEIRA, EXPLICANDO A NOVA DINÂMICA DO SEU PEQUENO NEGÓCIO, NO MOMENTO MAIS DELICADO DA PANDEMIA.

A ausência de respostas a curto e médio prazo no cenário econômico, repercutindo, em particular, no funcionamento de pequenas empresas, atemorizou os parceiros de empreendimento. Dados coletados em uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), acerca da taxa de mortalidade de pequenos negócios – divulgada em 2021 –, qualificaram a situação, na pandemia, como delicada, em função da dificuldade de pequenos negócios quanto a falta de capital de giro e volume reduzido de trabalho e clientes.

Lucas Nogueira da Cruz confirma que, para além da readaptação dos métodos de negócio e da redução de expectativa quanto aos custos, o projeto com suas parceiras seguiu, à medida que a situação do vírus arrefeceu e o uso das redes sociais foi se diversificando, para atender às demandas de trabalho.

“Para conseguir captar bem o que os clientes desejam para os projetos, com as restrições da pandemia, tivemos a necessidade de fazer todas as etapas à distância. Desde reuniões até as apresentações, que passaram a ocorrer por meio de videochamadas. Conforme a situação foi normalizando, voltamos a fazer nossas visitas em lojas e nas reformas tomando todos os cuidados possíveis, com uso de máscara e limpando todos os equipamentos”, explicou.

Inovação e negócios

Lucas Nogueira afirma que o processo de desenvolvimento tecnológico dos métodos inclusos na produção de trabalhos arquitetônicos solidifica a imersão dos clientes, o que auxilia o processo de conexão com os trabalhos do escritório Morá. Segundo o arquiteto, não só os mecanismos teóricos que conduzem o lado técnico da arquitetura ganham contornos mais fáceis de serem visualizados pelo público, como os projetos desenvolvidos podem realçar o aspecto mais criativo do trabalho realizado na empresa.

“HOJE JÁ USAMOS MUITAS FERRAMENTAS PARA APRESENTAR NOSSOS PROJETOS. UMA DELAS SÃO OS ÓCULOS DE REALIDADE AUMENTADA, QUE PERMITE QUE O CLIENTE VEJA O PROJETO EM 360 GRAUS E SE SINTA REALMENTE DENTRO DO ESPAÇO PROJETADO. É MUITO LEGAL VER A EMPOLGAÇÃO DELES AO COLOCAR OS ÓCULOS E VER COMO O AMBIENTE PODE SE TORNAR NO FUTURO”, DIZ.

Área de churrasqueira com artesanato local em arandelas e pendentes (feitos com palhas), além do uso de madeira certificada, na mesa e na bancada.  — Foto: Arquivo Pessoal

Inclusão social e arquitetura

Os trabalhos de arquitetura inclusiva, cuja abordagem revela a extensão do olhar das projeções para a acessibilidade, nos mais diversos espaços – contemplando a todos os públicos –, é uma das observações essenciais para Lucas Nogueira, nos projetos da Morá. O olhar humanizado é essencial aos serviços coordenados em seu empreendimento. No entanto, diz ele, ainda há algumas limitações.

“ESTAMOS ANDANDO EM PEQUENOS PASSOS. COMO SOMOS UMA EMPRESA PEQUENA AINDA, TEMOS UM POUCO DE DIFICULDADE EM CONCRETIZAR NOSSOS PLANOS EM RELAÇÃO A ISSO. APESAR DE JÁ TERMOS FEITO ALGUNS PROJETOS DE ARQUITETURA SOCIAIS, NOSSO PLANO É QUE NO FUTURO POSSAMOS REALMENTE POR MAIS A MÃO NA MASSA PARA CONSEGUIRMOS LEVAR A ARQUITETURA PARA TODOS”,

Meio ambiente: um projeto sustentável

A arquitetura, nas últimas décadas, lançou luz sobre o desenvolvimento sustentável como um alicerce possível, conciliando recursos alternativos, confeccionados para o uso em operações e projetos, que possam reduzir impactos potencialmente danosos à natureza e ao meio ambiente.

O projeto Morá vem utilizando a reciclagem e o reaproveitamento como marcas em algumas edificações desenvolvidas.

“SEMPRE BUSCAMOS PENSAR FORA DA CAIXA NOS NOSSOS PROJETOS, E ACHO QUE ALGO BEM INOVADOR E INTERESSANTE QUE FIZEMOS FOI UMA PIZZARIA, ONDE USAMOS MUITOS MATERIAIS DE FERRO VELHO, REVESTIMENTOS NADA USUAIS E UMA DECORAÇÃO DIFERENTE”, REFORÇOU LUCAS.

Itens de ferro velho, entre cadeiras e mesas, foram utilizados no projeto, além de pratos e um antigo equipamento de pescaria. — Foto: Arquivo pessoal

Itens de ferro velho, entre cadeiras e mesas, foram utilizados no projeto, além de pratos e um antigo equipamento de pescaria. — Foto: Arquivo pessoal

Os anos de graduação e o espaço urbano de São Luís suscitam, entre os empresários, a visão do lado sustentável na arquitetura. Para eles, diz Lucas Nogueira, alguns projetos tentam conciliar elementos da natureza com a comodidade dos espaços projetados.

“Sempre buscamos usar os materiais mais sustentáveis ao nosso alcance. Durante a faculdade esse foi um tema muito abordado, então naturalmente estamos sempre projetando de forma a aproveitar ao máximo os recursos naturais para trazer conforto e funcionalidade nos espaços, como a ventilação natural, iluminação do sol e preservação da vegetação existente no local”, reforça.

O projeto reutiliza parte dos móveis, revestidos com tinta, além de artesanato local para a luminária. — Foto: Arquivo pessoal
O projeto reutiliza parte dos móveis, revestidos com tinta, além de artesanato local para a luminária. — Foto: Arquivo pessoal

Parcialmente, com um longo caminho à vista, Lucas Nogueira observa, junto às suas parceiras de negócio, o que tem sido realizado pelo empreendimento Morá até aqui. O caminho luminoso, enquanto uma empresa, sinaliza alternativas possíveis para o empreendedorismo no Maranhão.

“É UMA JORNADA QUE NÃO TEM UMA LINHA DE CHEGADA BEM DELIMITADA. ESTAMOS SEMPRE EM BUSCA DE MELHORAR NOSSO ATENDIMENTO E SERVIÇOS PARA OS CLIENTES. ESTAMOS NESSE PROCESSO CONTÍNUO DE EVOLUÇÃO E ATUALIZAÇÃO PARA MELHORAR NOSSA ENTREGA”, CONCLUIU.

Estratégias e suportes para o empreendedorismo

A Gerente da Unidade de Atendimento e Relacionamento com Cliente do Sebrae no Maranhão, Marina Silva Soares Lavareda, explica, em entrevista ao g1 Maranhão, que há um amplo trabalho de consultoria e serviços para auxiliar os pequenos empreendedores em atividade no estado.

“Os empresários de pequenos negócios representam 99% da economia nacional, incluindo os microempreendedores individuais e produtores rurais, disponibilizando serviços e conhecimento nos mais diversos formatos e condições […] Dispomos de soluções de capacitação e consultorias com intervenções diretas nas empresas. Soluções gratuitas e subsidiadas nas áreas principais da Gestão, Inovação e Mercado”, diz.

A adaptação de micro e pequenas empresas no mercado também passa por um processo de colaboração, para facilitar a sobrevivência dos empreendimentos nos setores de atuação.

“O Sebrae conta com uma carteira de serviços e produtos para preparar melhor o empresário, e o candidato a empresário que vai abrir seu negócio por oportunidade ou por necessidade, e principalmente dar conhecimento, nos mais diversos formatos, para fins de adaptação das micro e pequenas empresas as atuais condições de mercado, com vistas a melhoria de competitividade e produtividade”, explica.

O processo de sustentabilidade, entre pequenas empresas, no ambiente comercial maranhense, também resulta no desenvolvimento de programas de atuação. Marina Lavareda informa que há mecanismos à disposição dos empresários para convergir a atividade econômica com a não-agressão ao meio ambiente.

“O Maranhão o possui mais de 50 temas de consultorias voltadas à sustentabilidade, desmembradas entre as categorias de água, ar e solo, Eficiência energética, Gestão da sustentabilidade, Resíduos e Saúde e Segurança do Trabalho. Também colaboramos com um programa para o desenvolvimento da Amazônia legal de forma sustentável utilizando inovação e tecnologia”, afirmou.

Para aconselhar os novos pequenos empresários que pretendem atuar, economicamente, no estado, Marina Lavareda informa que o conhecimento do ambiente mercadológico e o planejamento são alguns dos principais métodos para a consolidação no mercado.

“Conhecimento é a alma do negócio. O principal motivo das empresas fecharem suas portas com menos de dois anos de atuação é a falta de conhecimento em processos de gestão. Conhecer o mercado o qual se pretende inserir e as reais necessidades de seus potenciais clientes é fundamental para estruturar processos e fornecer produtos e serviços que serão consumidos pelo mercado. Conhecimento leva ao planejamento e à tomada de decisões mais conscientes”, concluiu.

Por Juliano Amorim*, G1 MA, g1 MA

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