O principal prêmio europeu para inventores de todo o mundo acaba de premiar uma designer brasileira com 10 mil euros por sua criação: absorventes higiênicos e tampões sustentáveis e totalmente biodegradáveis. Feitos com fibras recuperadas de resíduos da colheita de banana, eles serão vendidos no esquema “compre um, doe um”. A inventora agora trabalha com cooperativas e organizações lideradas por mulheres para levar os produtos para o mercado.

O Escritório Europeu de Patentes concedeu à designer brasileira Rafaella de Bona Gonçalves o segundo lugar no prêmio Young Inventors, criado especialmente para inovadores com 30 anos ou menos que desenvolveram soluções que contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Rafaella, que tem 25 anos, foi uma das finalistas e recebeu 10 mil euros pelo segundo lugar na premiação. Ela também foi homenageada em um evento híbrido, assistido online por uma audiência mundial esta semana.

O design que Rafaella criou gerou um produto ambientalmente sustentável, socialmente acessível e economicamente viável. Isso chamou a atenção do Escritório Europeu de Patentes (EPO) – uma das maiores instituições de patentes do mundo, que permite que inventores de todo o mundo patenteiem seus produtos em até 44 países, abrangendo um mercado de cerca de 700 milhões de pessoas. Todos os anos, o EPO premia as invenções mais revolucionárias com o European Inventor Award, um dos prêmios de inovação mais prestigiados em todo o mundo.

O produto que Rafaella criou aborda um problema que afeta pelo menos meio bilhão de mulheres no mundo todos os meses: a pobreza menstrual. Ela se deparou com essa questão durante a pesquisa para um curso sobre soluções de design que permitam enfrentar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. E decidiu encarar o desafio, desenvolvendo produtos menstruais que pudessem ser usados por mulheres sem acesso a condições sanitárias favoráveis, como as que vivem nas ruas.

“Conversando com algumas pessoas em situação de rua, descobri o problema conhecido como pobreza menstrual”, explica Rafaella. “Para mim, foi uma descoberta chocante, pois não tinha pensado nisso antes. Pensei: ‘Sou mulher e não sabia disso. Quem está olhando para esse problema?’ E então optei por fazer um produto que abordasse isso.”

As mulheres sem-teto podem não ter roupa íntima para colocar os absorventes, nem lugar para lavar copos menstruais. Por isso, Rafaella desenvolveu um tampão descartável, totalmente biodegradável, que não gera resíduos plásticos. Enquanto pesquisava materiais, ela se deparou com uma empresa indiana que fabrica absorventes menstruais a partir de resíduos pós-colheita de fibra de bananeira – um recurso abundante no Brasil. Seu produto foi concebido como um rolo semelhante ao do papel higiênico, que desenrola folhas conectadas de material absorvente de fibra de banana em camadas, as quais podem ser arrancadas, desdobradas e enroladas em tampões de qualquer tamanho. Esse protótipo evoluiu para uma segunda opção: igualmente biodegradável, ela pode ser usada tanto como absorvente com tiras adesivas ou rasgada ao longo de perfurações para ser convertida em dois tampões, dependendo da preferência ou das circunstâncias pessoais de vida.

“Rafaella de Bona Gonçalves demonstrou notável criatividade, determinação e compaixão no desenvolvimento de seus produtos para aliviar os problemas de pobreza menstrual entre grupos desfavorecidos no Brasil”, disse António Campinos, Presidente do Escritório Europeu de Patentes. “Seu compromisso com a sustentabilidade vai ao longo da cadeia de valor, desde as matérias-primas até o marketing, e estou muito feliz por ela estar entre os primeiros finalistas do nosso novo prêmio Young Inventors”.

Para levar sua invenção ao mercado, Rafaella optou pela abordagem “compre um, doe um”, que envolve a venda de um produto premium – sua segunda versão – cujo preço permite doar outro para quem não pode pagar por ele. Atualmente, a jovem inventora está trabalhando com a EcoCiclo, um mercado online brasileiro liderado por mulheres jovens para produtos sustentáveis ​​feitos por mulheres, para desenvolver ainda mais os absorventes e trazê-los ao mercado.

O projeto atual usa uma fibra de bambu macia para a primeira camada, fibra de banana, espuma de soja ou celulose de madeira para a segunda e uma camada externa impermeável e biodegradável. A banana a fibra é fornecida pela cooperativa Rede Mulheres de Fibra, que também fabrica outros produtos com resíduos de banana e emprega mulheres carentes. O próximo passo é obter financiamento para o maquinário necessário para aumentar a produção e reduzir custos, já que as almofadas absorventes são atualmente feitas à mão.

Rafaella diz que o gênero é uma dimensão importante em seu trabalho. “Na maioria dos meus projetos, procuro enfrentar os problemas da desigualdade de gênero. Então, tenho muitos projetos focados no lugar da mulher na sociedade e em todos os problemas que enfrentamos, assim como nossas dificuldades diárias”, explica.

Rafaella nasceu em Curitiba e se formou bacharel em design de produto pela Universidade Federal do Paraná em 2020, ganhando o prêmio iF Design Talent 2019 por seu projeto de graduação. Desde maio de 2021, ela trabalha em tempo integral como pesquisadora de UX e designer de serviços para a empresa de serviços de saúde Robot Laura. Rafaella foi palestrante no TEDx em 2019 e foi reconhecida com outras honras e prêmios, incluindo um Bornancini Design Award de prata em 2020, o prêmio Diseño Responde e o Tomie Ohtake e Leroy Merlin Design Award em 2021.

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