Uma ampla análise de 16 partículas do asteroide Ryugu, parte das amostras obtidas pela missão Hayabusa 2, revelou diferentes informações sobre processos que ocorreram antes, durante e depois da formação do Sistema Solar — e alguns deles seguem afetando a superfície de asteroides mesmo durante a atualidade. O resultado vem de um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Okayama, no Japão.
A Hayabusa 2 foi lançada em 2014 pela agência espacial japonesa JAXA, com o objetivo de investigar a origem e evolução do Sistema Solar e da vida em nosso planeta. Para isso, a missão viajou com destino ao asteroide Ryugu, uma rocha espacial que pode ter matéria orgânica e água da formação da nossa vizinhança; ela o alcançou em 2018 e coletou amostras dele, trazendo o material para a Terra em 2020.
Os dados elementais e isotópicos da rocha espacial mostraram que o Ryugu tem material nebular pré-solar (ou seja, do antigo disco de gás e poeira cercando o que se tornaria o Sol, conforme descrito pela teoria da nebulosa solar) mais primitivo já identificado, e alguns materiais orgânicos, como aminoácidos (os blocos construtores das proteínas dos seres vivos) podem ter sido herdados antes mesmo da formação do Sistema Solar.
A descoberta de proteínas formadoras de aminoácidos em amostras do asteroide não contaminadas sugerem que outros objetos parecidos com o Ryugu podem ter trazido as “sementes” dos materiais necessários para o florescimento da vida. Além disso, as amostras do asteroide incluem também evidências físicas e químicas de que, de fato, o Ryugu veio de um corpo congelado do Sistema Solar externo, que passou por reações químicas complexas com água líquida.
O passado do Ryugu
O corpo congelado que deu origem ao asteroide parece ter se rompido e formado um fragmento com características de um cometa; depois, ele teria evoluído por meio da sublimação do gelo, até formar o asteroide poroso observado hoje. Depois, partículas vindas do Sol e de outras estrelas podem ter bombardeado o asteroide e alterado os materiais na superfície dele, como a matéria orgânica. Este processo pode ter ajudado a formar materiais com propriedades refletivas distintas, que explicariam a aparência atual do Ryugu.
Análises das partículas do asteroide mostraram a presença de argila, formados por reações com outros minerais e água líquida, o que indica que as amostras encontraram água líquida e congelada no passado. A alteração aquosa parece ter ocorrido aproximadamente 2,6 milhões de anos após a formação do Sistema Solar, o que sugere que o Ryugu teve contato com água líquida em uma etapa bem primordial da evolução da nossa vizinhança. Já o gelo dele pode ter sido derretido pelo calor de elementos radioativos, que podem ter existido por pouco tempo.
Após o decaimento destes elementos, o objeto pode ter sido resfriado e congelado novamente. Já os materiais orgânicos nas assinaturas primitivas do Ryugu sugerem formação no interior do meio interestelar, ou seja, na região entre sistemas estelares ou até na parte externa da nebulosa protossolar. Somada à abundância de água e ausência de materiais e assinaturas do Sistema Solar interno, isso sugere que o material do Ryugu foi lentamente agregado e alterado no Sistema Solar externo.
Por fim, a sublimação do gelo da superfície acabou originando um asteroide de baixa densidade e alta porosidade. Depois, a ação das partículas solares e raios cósmicos afetou a matéria orgânica dele, alterando sua estrutura; mas, apesar destes efeitos alterarem e destruírem a informação da matéria orgânica, materiais primitivos foram detectados durante a análise geoquímica das amostras do Ryugu.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Proceedings of the Japan Academy.
Por: Danielle Cassita