“O empresário hoje é muito mais aberto ao conhecimento”, diz CEO da G4 Educação

Em entrevista à Mercado&Consumo, Luccas Riedo fala sobre como a educação pode ajudar na criação de empregos

0
29

Com 23 mil alunos formados em 12 mil empresas, a edtech paulista G4 Educação tem uma meta ousada: viabilizar a criação de 1 milhão de empregos até 2030 entre as empresas que passarem pelos seus cursos. Em abril deste ano, a G4 comemorou a criação de mais de 100 mil empregos gerados com a colocação de um painel eletrônico da Nasdaq, bolsa de valores de Nova York, na Times Square, coração de Manhattan.

Criada em 2019 por Tallis Gomes (fundador de EasyTaxi e Singu), Bruno Nardon (Rappi, Kanui e Dafiti) e Alfredo Soares (Vtex e Xtech), a G4 atua com cursos de liderança e gestão com formação modulares, de alta intensidade e curta duração.

Os cursos são dados por mentores que construíram negócios de sucesso ou que pensaram fora da caixa para dentro de determinada área.

“Hoje as pessoas querem aprender com as pessoas que elas veem entregando resultados no dia a dia porque elas sentem mais conexão com as pessoas do que com as marcas. Essa migração da economia para a economia dos criadores de conteúdo está começando e, cada vez mais, vai se acentuar.”, afirma Luccas Riedo, CEO da G4, que entrou na empresa em 2020.

Em entrevista à Mercado&Consumo, Riedo comenta sobre o crescimento das empresas através da educação, tecnologia e o futuro da empresa. Confira a seguir or principais trechos da entrevista:

Mercado&Consumo: Poderia falar sobre a sua trajetória profissional antes da G4 e por que decidiu entrar para esse mercado?

Luccas Riedo: Eu sou engenheiro civil de formação e trabalhei bastante tempo no mercado de engenharia. Depois, eu passei quatro anos em consultoria estratégica. Entrei na G4 quando a empresa tinha um ano, em maio de 2020, principalmente por acreditar nesse propósito de transformação social positiva, de que as pessoas podem melhorar e, com isso, melhorar as empresas delas, crescer, investir mais e gerar emprego. Essa é a força que a gente acredita que pode dar uma evolução econômica para o País. Essa tranquilidade de que a gente pode dar aos empresários de melhorarem suas próprias empresas e, consequentemente, gerar emprego para a sociedade é o que me motiva.

M&C: Como você entrou na G4?

Luccas Riedo: Eu trabalhava em uma consultoria e tinha uma passagem marcada para abril [de 2020] para passar três meses estudando no Vale do Silício. Em fevereiro, os projetos já foram parando e, antes mesmo de fechar para a covid-19, me falaram que eu precisava ficar 96 dias em casa. Quando fechou, eu já estava há 35 dias em casa. Eu já conhecia o Tallis [Gomes] e o Alfredo [Soares], que criaram um projeto de tecnologia para tentar ajudar na covid. Comecei a trabalhar de forma voluntária, até que esse projeto parou. Depois, surgiu uma vaga para ser head financeiro na G4 e eu aceitei o desafio, mesmo sem nunca ter atuado nessa área anteriormente. A equipe foi crescendo e criando outras unidades de negócios, até que eu assumi a posição de CEO em novembro de 2020.

M&C: Desde que você entrou para a G4, como você resume o que mudou no setor de e-techs?

Luccas Riedo: Tem um movimento muito forte de que as pessoas querem estudar cada vez mais. Hoje as pessoas querem aprender com as pessoas que elas veem entregando resultados no dia a dia porque elas sentem mais conexão com as pessoas do que com as marcas. Essa migração da economia para a economia dos criadores de conteúdo está começando e, cada vez mais, vai se acentuar. Essa é a grande diferença de 2020, quando eu entrei, e hoje.

Um outro ponto é que as pessoas querem e precisam de conhecimento muito mais prático e rápido. Aquele conceito de ficar 4 anos numa pós-graduação, das 19h às 22h, aprendendo muito sobre muita coisa e pouca coisa aplicável está dando lugar ao conceito life long learning, de estar sempre aprendendo e aprendendo coisas para o desafio que tem no momento.

Ou seja, se eu tenho um desafio de gestão de pessoas, eu não vou procurar um curso de administração que vai me ensinar gestão de pessoas apenas no terceiro e quarto semestres entre um monte de outras coisas. Eu vou procurar alguém que consiga me ajudar naquele tema e naquele momento, de forma rápida, prática e aplicável. É o que temos no G4, com formação modulares, em formato de alta intensidade e curta duração. Com cursos de 24 ou 36 horas.

M&C: Vocês têm cursos presenciais e online. Poderia falar sobre as diferenças entre o conteúdo e o público de cada um?

Luccas Riedo: Os cursos presenciais, na grande maioria, são focados nos tomadores de decisão da empresa, os donos, diretores e C-levels. São mais caros e mais focados nos generalistas. Os cursos online são formações mais táticas, geralmente para os funcionários desses líderes, para eles aplicarem, através de uma ferramenta, a G4 Skills.

Trazemos aqui uma inclusão do conteúdo de gestão de alta qualidade. Hoje, com a tecnologia, é possível trazer um conteúdo que era elitista, só possível em universidades tops do mundo, como Harvard, para todo mundo ter acesso por uma fração do preço.

M&C: Você poderia citar alguns carros-chefes dos cursos que a G4 oferece?

Luccas Riedo: Temos o Gestão 4.0, Imersão e Mentoria, que é com os fundadores da G4, o Tallis, o Alfredo e o Bruno [Nardon], e o Growth, que é a nova maneira de enxergar o marketing, não apenas o marketing digital.

Temos também cursos específico sobre Experiência do Cliente, Liderança e Gestão de Pessoas. Inclusive, o Bernardinho, ex-técnico de vôlei, é um dos mentores em Gestão de Pessoas. Essas são as imersões presenciais, além do nosso Clube de Negócios.

Ao todo, temos sete unidades de negócios: as imersões presenciais; os produtos online; o G4 Club, que é um clube de negócios com os ex-alunos onde fazemos viagens e eventos durante o ano; treinamentos em company; o Go Academy, onde formamos profissionais para trabalhar em empresas; e o G4 Skills, que é o software para formação de funcionários. Essas empresas formam o ecossistema para atender o médio empresário de ponta a ponta.

O curso presencial tem, em média, 36 horas. Já o online tem entre 40h e 50h. A ideia do presencial é abrir a cabeça, enquanto o online é ser mais profundo e ensinar como executar no dia a dia. O tíquete médio dos cursos presenciais varia de R$ 19 mil a R$ 21 mil. No online, a média vai de R$ 2.500 a R$ 3.000.

M&C: Os cursos que vocês desenvolvem são voltados para que tipo e porte de empresa?

Luccas Riedo: O nosso conteúdo ajuda muito bem os médios, que faturam entre R$ 5 milhões a R$ 500 milhões. Acima disso, a empresa já tem uma estrutura e consegue pagar uma consultoria mais personalizada. Quem está na faixa entre R$ 50 milhões e R$ 80 milhões já tem um tamanho e precisa de alguns detalhes de como implementar um processo que vai fazer ele crescer ainda mais.

M&C: Existe algum que setor que busca mais os cursos da G4?

Luccas Riedo: Existe, mas eu acho isso um grande erro do mercado porque se você é um escritório de contabilidade, por exemplo, você não deveria buscar um curso de escritório de contabilidade porque isso é fazer mais do mesmo. Deveria buscar o que a Amazon e o Facebook estão fazendo, quais são os conceitos e premissas que estão por trás deles e como traduzir isso para contabilidade. A gente acredita que para crescer mais do que o mercado é preciso abstrair o que as empresas que são referências fazem e aplicar isso no seu negócio.

M&C: Como funciona a questão dos mentores? Eles são fixos ou convidados para um curso específico?

Luccas Riedo: Os cursos são sempre mutáveis. Pegamos as dores dos alunos e, em cima disso, criamos os produtos e vamos atrás dos mentores. Por exemplo, se decidimos fazer um curso de marketing, pegamos quem são as pessoas no Brasil que construíram negócios de sucesso dentro de marketing ou usaram o marketing de forma fora da caixa supereficiente para construir o negócio dele. Fazemos uma lista com 10 pessoas que a gostaríamos de aprender, vamos atrás delas e elas se dividem para trazer o conteúdo, com a ajuda do nosso time de produtos.

Hoje temos 42 mentores, entre eles Sofia Esteves, do Grupo Cia de Talentos; Dennis Wang, que foi VP de Operações do Nubank, Marcelo Toledo, que foi diretor de engenharia do Nubank; Caio Poli, que é head de custumer experience da 99. Esse é um dos diferenciais do G4. Aprender com quem faz e não simplesmente com quem sabe.

M&C: E no caso dos cursos fixos?

Luccas Riedo: A partir do momento que tenho um produto, a tendência é que eu continue com ele. Por exemplo, no Custumer Experience já fizemos 13 turmas presenciais e formamos mais 1.200 alunos no online. Raramente, fazemos só uma vez. A gente entende uma demanda do mercado. Em cima disso, vemos qual produto resolve essa dor e qual mentor indicado.

M&C: Em relação ao que se vê lá fora, estamos adiantados ou atrasados em termos de implementação de processos educacionais corporativos via novas tecnologias, startups e aplicativos?

Luccas Riedo: Em termos de conteúdo, não existe grande diferença, talvez o nível de profundidade lá seja maior. Mas a diferença é o interesse dos alunos nos temas. Por exemplo, no G4, já fizemos aplicação de cases, que os alunos não gostaram tanto quanto uma aula expositiva. Mas esse é um modelo que Harvard e Stanford utilizam. O formato é bem diferente. Os brasileiros ainda gostam mais das aulas expositivas.

Uma diferença muito gritante é na área da tecnologia, que acontece não só na educação, mas no País como um todo. A disponibilidade de mão de obra, de desenvolvedores para criarmos coisas tecnológicas que façam a diferença é muito díspare. Em outros países têm dezenas de milhares de desenvolvedores bem qualificados. Aqui ainda estamos engatinhando, ainda estamos formando.

Trabalhamos muito no G4, com uma inteligência artificial no G4 Skills, para conseguir entregar o conteúdo mais personalizado possível para uma empresa.

M&C: Você acredita que o empresário brasileiro hoje está mais aberto a fazer um curso ou uma qualificação profissional pela internet?

Luccas Riedo: Com certeza. As próprias redes sociais ajudam muito com isso. Até 10, 15 anos atrás, as empresas não abriam seus problemas para ninguém. Hoje, quando abrimos as redes sociais, vemos que as dores que o dono de um atacado em Cuiabá são muito parecidas com as do dono de uma loja de material de construção em Belo Horizonte. Essas pessoas, quando se juntam, veem que podem aprender.

Na G4, produzimos muito conteúdo nas redes sociais exatamente para mostrar para as pessoas a gama de conhecimento que existe. O empresário hoje é muito mais aberto ao conhecimento e tem a humildade de admitir que não sabe tudo e que pode alcançar isso com a educação.

M&C: Qual é a meta de investimento e crescimento da G4 para os próximos anos?

Não temos investimento externo. Faturamos, em 2020, R$ 20 milhões. Em 2021, nós fizemos R$ 52 milhões e estamos mirando R$ 150 milhões para este ano, um crescimento de três vezes frente a um crescimento já expressivo do ano passado. Para o ano que vem, estamos mirando algo entre R$ 260 milhões e R$ 280 milhões. Tudo isso, planejamos fazer sem investimento externo.

A partir do ano que vem, quando os desafios ficam bem maiores, vamos pensar em captar algum dinheiro e ter para chegar em R$ 1 bilhão em 5 anos, mas vai depender das condições de mercado.

Em 2020, quando eu entrei na G4, havia 23 funcionários. Em maio de 2021, tínhamos 110 funcionários e neste ano, estamos com 250. Crescemos 10 vezes o número de funcionários em 2 anos.

M&C: O IPO é uma das possibilidades de investimento?

Luccas Riedo: A captação de dinheiro é um meio de atingir o nosso objetivo, que é ajudar os nossos alunos a criarem 1 milhão de empregos. Isso vai depender das condições da empresa e do mercado no momento que tomarmos essa decisão. A captação de recurso pode ser por private equity, abertura de capital (IPO), débito com o banco entre outras.

Imagens: Divulgação

Fonte: Mercado e Consumo

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui