UBlink: a evolução das proptechs para o marketplace da moradia

Companhia prevê terminar o ano com R$ 6 bilhões em imóveis na carteira de ofertas, na cidade de São Paulo

0
28
UBlink: com atendimento humanizado, fontes de receita vão além de venda e aluguél de imóvel (Divulgação/UBlink)

Enquanto Loft e QuintoAndar colocam as barbas de molho em meio a uma disputa judicial sobre uso de imagens e à ressaca no venture capital, uma concorrente desponta na capital paulista com taxa de crescimento de espantar. Fundada por dois veteranos do real estate, Arnaldo Curiati e Rogério Santos, e mais uma veterana da tecnologia, Vânia Gomes, ex-vice-presidente da IBM para América Latina, a UBlink tem uma proposta que vai bem além das proptechs que trouxeram o início da digitalização no setor.

O negócio da UBlink é ser o “market-place da moradia”, com tudo que isso tem dentro: da procura pelo imóvel para comprar ou alugar, passando pelo financiamento, mais a papelada toda, até a decoração e gestão de contas e documentos. Para completar, o aplicativo permite a conexão entre interessados e proprietários sem interferência de corretores, mas o que não significa sem assistência deles. A negociação sem intermediários — e seus conflitos potenciais — é quase o sonho de qualquer um que esteja planejando mudar de residência.

No momento, a UBlink tem na carteira 1.400 imóveis, equivalentes a um valor geral de vendas (VGV) de R$ 1,5 bilhão e atua em oito bairros da cidade, concentrados especialmente na Zona Sul. A expectativa é terminar o ano com R$ 6 bilhões aos seus cuidados, e com ofertas também no Centro e mais zonas Norte e Leste, podendo alcançar a Grande São Paulo ao longo do tempo. “Estamos crescimento a taxa de 200 imóveis por semana”, conta Santos, em entrevista ao EXAME IN. Mas o que significa crescer neste momento para a UBlink? Colocar imóveis dentro de sua base.

Quanto mais imóveis, mais clientes, mais dados, mais crescimento de receita. A crença de que dá para quadruplicar o volume em carteira ainda em 2022 vem, é claro, da experiência. Curiati é um dos fundadores da Abyara e Santos, além de ter passado pela empresa, também foi Tecnisa e Cyrela. Cada um deles acumula cerca de 30 anos de conhecimento no setor. “Você não se forma na faculdade de real estate. Você sai da universidade sem saber nada de mercado imobiliário. É a vida quem vai te ensinar. Poucas atividades têm essa característica”, comenta Curiati.

“Acreditamos que podemos ser um canal relevante para as construtoras e incorporadoras com os semi-prontos, que devem colocá-los na nossa plataforma para venda”, conta Santos.

O objetivo do trio, que conhece profundamente a relação das pessoas com corretores e os dramas imobiliários, mais os usos tecnológicos, é acabar com todos as “dores” dos usuários. “Procurar imóvel não precisa ser chato”, diz Curtiati. Na largada, a proposta já carrega a solução de facilitar a procura do imóvel.

Pelo aplicativo, quando o usuário estiver caminhando na rua ou passando de carro e vir um prédio pelo qual se interessar basta apontar para o imóvel com a câmera do celular aberta. Pronto, se ele estiver na base da UBlink, o interessado já vai poder ver dentro, como é o apartamento (com a possibilidade de inclusive tirar medidas). E isso tudo em uma planta 3D.

Se estiver com tempo para visitar dentro, no aplicativo da UBlink, o usuário pode com um clique localizar os corretores disponíveis que estão próximos – e receberá uma indicação de nome junto com o tempo estimado de chegada. Quase uma mistura de caçar pokemon com Uber.

Curiati sabe que os desafios do setor vão muito além de ter ofertas digitais. Morar é algo extremamente íntimo e conversa diretamente com os hábitos geracionais. Por isso, a UBlink quer resolver bem mais do que ser um catálogo digital que suprime a figura de um avalista para fazer uma locação. “Um projeto leva cinco anos, entre a fase de desenvolvimento, projeto e construção. Nesse intervalo, hoje em dia, tudo pode mudar”, comenta, falando dos desafios da mudança acelerada nos costumes.

A UBlink teve apenas investimento anjo, além do capital dos sócios. Busca agora uma rodada seed, mas não procura no venture capital tradicional apesar do assédio. Acredita, segundo Santos, que os parceiros com interesse em mudar a cara do setor podem ser o “smart money” que procuram. “Não queremos fazer crescimento a qualquer custo”, afirma ele.

Tudo que a UBlink tem e oferece envolve parcerias. Não se trata de projetar a plataforma e ir ao mercado apenas. Quando fala do futuro, não é por acaso que Vânia Gomes está no trio. As soluções de inteligência artificial para a qual a plataforma foi desenvolvida foram todas pensando no IBM Watson Assistent, solução mais avançada da companhia de tecnologia no ramo da interação com usuários.

Nas funções financeiras, haverá um — ou mais — grande banco comercial junto. As conversas estão em fase final de negociação. Na parte de segurança, o parceiro é a Truora. Pensando na vida real das grandes cidades brasileiras, e no drama da violência, a UBlink confere cada interessado em chamar um corretor para as visitas. Entre o pedido de um profissional e a resposta sobre quem vai atender, no bastidor, é feita uma checagem das informações do interessado — que, acredite! — vai até a Interpol.

No marketplace, da forma mais tradicional que existe na cabeça dos consumidores, os parceiros serão as lojas e marcas que vendem tudo aquilo que pode ir em uma casa. No conceito “visite o decorado”, os usuários poderão clicar nos móveis e utensílios eletrônicos, por exemplo, e ir direto para as lojas em que são vendidos para comprá-los — claro, depois de conferir as medidas do apartamento, com uma espécie de trena virtual.

Todas essas frentes de negócios serão fontes de renda da UBlink, que quer uma carteira diversificada de serviços. Quando as soluções de inteligência da IBM Watson estiverem totalmente instaladas no aplicativo, a UBlink vai conseguir, inclusive, sugerir regiões alternativas de moradia, que possam otimizar os deslocamentos realizados.

Corretores, uma transformação

Apesar de retirar o corretor da intermediação das negociações, para evitar conflitos, a UBlink entende que esse profissional é essencial no serviço. Ele vai ser o olho no olho para o cliente. O objetivo da casa é transformar a relação, não suprimir. Por exemplo, quando um interessado na compra quiser fazer uma proposta pelo imóvel, ela chega diretamente ao proprietário. O corretor sabe que houve um lance, mas sabe o valor. A chance de sucesso daquela oferta é fornecida na forma de percentual ao proponente, com base dados e inteligência artificial — é estatística, portanto, e não opinativa.

Por isso, a forma como remunera esses profissionais será diferente. Eles vão receber as comissões tradicionais do setor. Além de sucesso na venda, no aluguel, vão ter uma taxa mensal pelo tempo de duração do contrato. “O contato humano é para ser um diferencial do nosso atendimento, pois na digitalização recente do setor, uma queixa recorrente dos clientes é que não têm um profissional à disposição para falar sobre os problemas encontrados”, comenta Santos.

Curiati comenta que, antes de colocarem a plataforma no ar, durante a fase de desenvolvimento, eles estudaram profundamente as novidades disponíveis e os competidores na relação com os usuários. O objetivo era justamente ir além da oferta atual do mercado.

Wallet

De forma gratuita, a fim de atrair mais usuários para a recorrência de uso da plataforma, a UBlink oferece uma gestão de documentos. Tudo referente a um imóvel, toda a documentação, pode ficar dentro do aplicativo – inclusive as notas fiscais de reformas que na hora de serem lançadas como melhorias na famigerada declaração de imposto de renda, ninguém acha.

Plantas – hidráulicas, elétricas e tudo desse tipo – também podem ficar guardadas na carteira virtual de cada cliente. A ideia, com esse serviço, é atrair também que investe em imóveis e, por exemplo, administra uma carteira de imóveis para renda.

O futuro do desenvolvimento da plataforma terá inclusive serviços de registro multi-family (com divisão da propriedade) e ligação com as ferramentas possíveis com a tecnologia blockchain para tokenização dos imóveis.

Por: Graziella Valenti

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui