Líder global na produção de biopolímeros em escala industrial, a Braskem dá um passo importante em direção ao cumprimento da meta de ampliar seu portfólio de produtos com conteúdo reciclado para atingir 1 milhão de toneladas destes produtos até 2030.
Trata-se da inauguração da primeira unidade de reciclagem mecânica em Indaiatuba (SP), fruto de uma parceria da companhia com a Valoren, empresa desenvolvedora de tecnologia e gestora de resíduos para transformação em produtos reciclados.
Com um investimento de R$ 67 milhões, essa nova instalação da Braskem entrou em operação em março deste ano, em um complexo que possui 9 mil metros quadrados de área construída, onde trabalham mais de 150 colaboradores.
Essa unidade será capaz de transformar, a cada ano, 250 milhões de embalagens plásticas pós-consumo feitas de polietileno e polipropileno – presentes em material de limpeza, higiene pessoal, cosméticos e alimentos, por exemplo – em 14 mil toneladas de resina reciclada pós-consumo com alta qualidade.
As resinas, por sua vez, passarão a ser reutilizadas como matéria-prima pela indústria de transformação e chegarão ao consumidor por meio de novos produtos, como mobiliário, embalagens secundárias, itens de jardinagem e pintura, entre outros.
Na entrevista a seguir, Edison Terra, vice-presidente de Olefinas e Poliolefinas da Braskem na América do Sul, apresenta os detalhes dessa nova unidade – e ressalta os compromissos da Braskem com as melhores práticas de sustentabilidade em benefício do meio ambiente. Confira:
Que tipos de produtos plásticos essa unidade de Indaiatuba é capaz de reciclar?
A planta de reciclagem mecânica de Indaiatuba, fruto da parceria da Braskem com a Valoren, processa, em sua maioria, resíduos de origem doméstica, considerando material rígido de polietileno (PE) e polipropileno (PP), como embalagens de alimentos, material de limpeza, produtos de higiene pessoal e cosméticos.
Que tecnologia vocês utilizam no processo de reciclagem?
Os aspectos tecnológicos foram um dos grandes desafios deste novo projeto. A linha de reciclagem é formada por um complexo modular, que integra diferentes etapas e foi desenvolvido com know-how próprio da Braskem. Os resíduos plásticos colocados no início da linha passam pelos processos de moagem, lavagem, extrusão e homogeneização.
O arranjo do projeto é inédito e o maquinário conta com tecnologia europeia de ponta, complementada por equipamentos nacionais.
Entre os diferenciais da nossa primeira planta de reciclagem mecânica estão a linha de lavagem de alto desempenho, com selecionador óptico para remoção de contaminantes por coloração e por tipo de material, os silos homogeneizadores, os sistemas de dosagem de aditivos e insumos de alta precisão e o módulo para eliminação de odor e de filtração de polímero de alto desempenho, o que contribui para a qualidade do plástico final.
Por fim, não poderíamos construir uma planta sem considerar, além da segurança das pessoas, as melhores práticas de sustentabilidade em sua infraestrutura. Por isso, realizamos o tratamento de água de recirculação, para otimização dos recursos de água e de energia.
Como a inauguração dessa planta se encaixa na estratégia ESG da Braskem?
Na Braskem, temos a missão de melhorar a vida das pessoas criando soluções sustentáveis da química e do plástico. A inauguração desta unidade representa parte da materialização desse propósito.
Nossa estratégia de transição para a economia circular está fortemente pautada em soluções de reciclagem mecânica e avançada. No caso da reciclagem mecânica, seguimos atuando em parceria com outros elos da nossa cadeia para o fortalecimento deste processo, transpondo barreiras técnicas e logísticas para garantir um material reciclado de qualidade e em quantidade.
Mas, é importante reforçar que tudo começa com o consumo consciente e o descarte adequado do plástico, muitas vezes na própria casa das pessoas. Por meio do descarte adequado e da coleta seletiva, esses resíduos podem chegar à nossa unidade e retornar ao ciclo produtivo do plástico, como matéria-prima de alta qualidade para novos produtos sustentáveis.
Ou seja, estamos construindo um caminho para agregar valor aos resíduos plásticos, que muitas vezes terminam sendo desviados do sistema de coleta para o meio ambiente, oceanos e rios.
Quais são as metas de reciclagem da Braskem no longo prazo e como a companhia atingirá esses objetivos?
O compromisso da Braskem, aprovado pelo conselho de administração, é atingir 1 milhão de toneladas de produtos com conteúdo reciclado até 2030. Além disso, também temos a ambição de ser mundialmente reconhecidos como uma empresa que desenvolve a cadeia de valor da reciclagem nas regiões onde atua e sermos líderes em reciclagem nas Américas.
Para cumprir nossas metas, pretendemos trabalhar por meio de parcerias com outras empresas em nossa cadeia de valor para fortalecer a reciclagem mecânica e avançada globalmente, assim como educar, conscientizar e engajar a sociedade sobre o descarte adequado, consumo consciente e a importância do processo de reciclagem. A inauguração da planta de reciclagem mecânica é uma entre diversas inciativas da Braskem para o cumprimento dessas metas, que serão anunciadas nos próximos meses.
O que mais está previsto além desse projeto?
Em fevereiro, anunciamos um acordo para a construção de uma unidade de reciclagem avançada, também em parceria com a Valoren, e a criação do Cazoolo, um centro de desenvolvimento de embalagens sustentáveis, que nos ajudarão a cumprir esses objetivos no prazo que estipulamos, além de serem iniciativas complementares a essa planta de reciclagem mecânica. Somados, os três projetos representam um aporte de cerca de R$ 130 milhões.
Por meio dessas três frentes importantes, desejamos fechar o ciclo da economia circular e melhorar os processos e caminhos ligados à reciclagem de resíduos plásticos no Brasil e no mundo.
Quando estarão prontas essas novas unidades?
A Braskem fechou outro acordo com a Valoren para a construção e a instalação de uma unidade de reciclagem avançada, também em Indaiatuba. Ela irá transformar, por meio do processo de pirólise, resíduos plásticos não recicláveis mecanicamente em matéria-prima circular certificada, que será utilizada para a fabricação de novos produtos com a mesma qualidade dos virgens, sejam resinas ou químicos.
Essa nova unidade, que envolve um desembolso conjunto de R$ 44 milhões, deverá começar a operar no primeiro trimestre de 2023 e terá capacidade de produzir 6 mil toneladas de produtos circulares por ano.
Ainda neste primeiro semestre de 2022, a Braskem prevê a inauguração do Cazoolo, seu centro de desenvolvimento de embalagens para economia circular. O hub de inovação, que irá operar na zona oeste da capital paulista, conectará clientes, designers, brand owners, startups e universidades com o objetivo de desenvolver embalagens mais sustentáveis por meio de melhorias no design e na jornada delas, desde a concepção até o pós-consumo.
Esse novo centro é fruto de um investimento de cerca de R$ 20 milhões, considerando suas instalações e os equipamentos de ponta, que serão utilizados na criação de embalagens protótipos. Tudo isso visando acelerar o avanço da circularidade das embalagens e gerar menor impacto ambiental.
Onde mais a Braskem investe em plantas para reciclagem?
A companhia está olhando para a reciclagem em todas as regiões em que atua, América do Sul, América do Norte e Europa. O que posso antecipar é que assinamos um contrato de cooperação com a Alcamare, maior empresa de reciclagem do México, para a produção de resinas feitas de material reciclado para embalagens de produtos alimentícios.
Além disso, a Braskem apoia a Plastix – empresa dinamarquesa dedicada à reciclagem de material plástico, especializada em separar e reciclar resíduos de fibra plástica do setor marítimo – em seu esforço de reciclar redes de pesca e outras fibras plásticas para uso no mar. A Braskem uniu forças com a empresa para ajudá-la a otimizar o processo de reciclagem, fornecendo suporte técnico e comercial.
Também na Europa, participamos do Nextloop, um premiado programa desenvolvido, desde 2020, pela consultoria ambiental Nextek, de Londres, que conta com um objetivo ambicioso e necessário para a economia circular do plástico: criar o primeiro polipropileno reciclado de grau alimentício (FGrPP – food-grade recycled polypropylene) partindo de resíduos pós-consumo.
Nos Estados Unidos, anunciamos, em fevereiro, a compra de ações da Nexus, empresa líder local em tecnologia de reciclagem avançada para a conversão de plásticos de difícil reciclagem em matéria-prima circular para a produção de resinas com a mesma qualidade das virgens.
Ainda na região, tivemos a expansão do nosso portfólio de polímeros circulares, com a inclusão de resinas com conteúdo reciclado pós-consumo para aplicação em embalagens alimentícias. Importante reforçar que esses novos produtos estão de acordo com as normas da Food and Drug Administration (FDA).
O que o investimento e a prática da economia circular trazem de resultados para os investidores e stakeholders da Braskem no curto, médio e longo prazos?
Assumimos publicamente, em novembro de 2018, um compromisso em benefício da economia circular, convidando outros atores da cadeia a fazer o mesmo.
Esse compromisso, que evoluiu em 2020 para economia circular de carbono neutro, insere a Braskem como parte da solução, trabalhando com todos os agentes interessados para transformar a economia linear em circular, onde as necessidades da sociedade são atendidas por material, processos e sistemas mais inovadores sustentáveis e circulares.
Os consumidores, por exemplo, estão mais conscientes em relação aos produtos e serviços que adquirem e têm buscado soluções e tecnologias sustentáveis para o seu dia a dia. Além disso, existe um grande movimento das empresas para incentivar práticas de ESG, já que os investidores também apresentam essa demanda e estão mais dispostos a aplicar seus recursos em companhias que têm esse propósito e o mostram na prática.
Acreditamos que o desenvolvimento sustentável e a inovação são as bases da atuação da Braskem e, nesse sentido, investimos constantemente no aperfeiçoamento tecnológico de nossos processos.
Em nossa visão, investir no avanço da tecnologia é o caminho central na busca por um futuro mais sustentável, e enxergamos nossos investimentos de P&D como uma ferramenta para os desafios estruturais que possibilitarão a transição energética para uma economia mais justa, circular e de carbono neutro. E nossas iniciativas são também um convite para aqueles que quiserem se juntar à Braskem nessa jornada.
Fonte: Exame