O objeto metálico encontrado em março no sul do Paraná é, de fato, um pedaço de lixo espacial. A confirmação da natureza da peça vem de análises de técnicos da Agência Espacial Brasileira (AEB), que investigaram o objeto após relatos de moradores de São Mateus do Sul, cidade paranaense, e produziram um laudo técnico. Análises preliminares de especialistas haviam apontado a possibilidade do objeto ser parte de um foguete Falcon 9, da SpaceX.
Uma equipe da AEB chegou no dia 17 de março à cidade onde a peça foi identificada, e entrou em contato com a defesa civil, autoridades locais e com o proprietário das terras onde a peça estava. Depois, os técnicos isolaram a área e coletaram dados sobre o objeto e as circunstâncias em que foi encontrado. Eles iniciaram a elaboração de um relatório sobre a caracterização do objeto, que o descreve como “derivado de um artefato espacial”.
O documento indica também providências que podem ser tomadas, conforme descrito pela legislação sobre o assunto. “O relatório elaborado concluiu sobre a possível procedência do objeto, e informou à embaixada do país de origem no Brasil, que entrou em contato com a empresa responsável pelo artefato”, declarou a AEB, em nota à imprensa.
O procedimento é necessário para garantir que o objeto seja resgatado e armazenado corretamente. Por enquanto, a peça metálica segue no local em que foi encontrada, e a agência espacial aguarda retorno da embaixada do país para tomar as providências necessárias. Não há informações sobre a empresa ou nação responsáveis pelo artefato.
Entenda o caso do lixo espacial encontrado no Paraná
O objeto foi encontrado no dia 16 de março pelo mecânico e agricultor João Ricardo, que o descobriu enquanto caminhava por sua propriedade. Após vê-lo de perto, ele se lembrou de ter ouvido um forte som durante a madrugada do dia 8 daquele mês, quando o segundo estágio de um foguete Falcon 9 reentrou na atmosfera.
A peça tem cerca de 4 m de comprimento e 6 m de diâmetro, e parece ser feita de um material tão fino que não resistiria à reentrada na atmosfera. Mesmo assim, os especialistas da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) consideram grandes chances de o objeto ser parte do foguete da SpaceX. Parte disso se deve ao fato de que a cidade fica bem abaixo da trajetória de reentrada do veículo lançador, ocorrida na semana anterior.
Outro fator é o formato e tamanho do objeto, que são compatíveis com as características da tubeira que reveste o motor Merlin 1D, do segundo estágio do foguete. Segundo a BRAMON, o objeto é formado por uma liga de nióbio e titânio que tem mais resistência a altas temperaturas, que pode explicar o porquê de o componente ter resistido à reentrada na atmosfera.
Como é feita a identificação da origem do lixo espacial
A Organização das Nações Unidas (ONU) guarda os registros de todos os objetos espaciais; no Brasil, o gerenciamento destas informações é realizado pela AEB. No país, o decreto n. 71.989, de 26 de março de 1973 promulgou o Acordo sobre Salvamento de Astronautas e Restituição de Astronautas e de Objetos Lançados ao Espaço Cósmico.
O artigo 5 do decreto descreve que, caso seja identificado um artefato espacial que tenha retornado à Terra em solo brasileiro, tal artefato deve ser retornado ao país que o lançou. Já o Tratado sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico, do decreto nº 64.362, de 17 de abril de 1969, determina que o Brasil deve identificar, com a máxima prontidão, a quem pertence tal artefato.
A AEB afirma que vem procurando aprimorar procedimentos relacionados ao monitoramento, queda, localização e destinação de objetos espaciais. A preocupação vem de encontro à atenção de agências espaciais em todo o mundo, que acompanham atentamente o aumento da quantidade de objetos em órbita e, consequentemente, da preocupação com o crescimento do lixo espacial.
Fonte: Canal Tech