Outros pontos abordados na AgroBrasília são a sustentabilidade e a preservação das terras. A Cooperativa dos Povos Indígenas de Mato Grosso estará na feira todos os dias, próximo à Fundação Nacional do Índio (Funaí) na defesa desses ideais. Representando os povos Haliti, Nambikwara e Manoki, a Coopihanama esteve no local mostrando o serviço que os indígenas realizam nas terras. Kevelen Zokezomaiake explica que o trabalho visa benefícios para as aldeias, sem prejudicar a terra. “Apenas 1,7% do nosso território é usado para plantio, o contrário que acontece nas demais propriedades, em que mais de 98% é usado no plantio. E quem escolheu essas regiões foram os anciãos da tribo, para não prejudicar a caça, as nascentes nem a produção de alimentos”, afirma. “Somos indígenas agricultores, mas preservamos a nossa reserva”, acrescenta.
Ligia Apodonepa, do povo Paresi, conta que quando os engenheiros e técnicos foram fazer o estudo da terra, ficaram surpresos porque os anciãos haviam escolhido para os locais de plantações regiões que ficavam longe das fontes, com bom solo, e que não prejudicava o funcionamento da floresta. “Eles tinham escolhido o lugar perfeito para a plantação somente utilizando o conhecimento empírico”, pontua.
Ela ressalta que cada comunidade desenvolve outras atividades além do plantio, para não ficarem dependentes apenas da agricultura. “Trabalhar com a terra nos dá uma garantia de qualidade de vida e geração de renda, além da questão de valorização territorial. Porque se eu dependo daquela terra, passo a valorizar mais aquele espaço. O nosso principal foco é mostrar para a sociedade que é possível, sim, produzir e, ao mesmo tempo, preservar. E continuamos com os nossos costumes. Antes de cada colheita, por exemplo, fazemos o nosso ritual de agradecimento à terra”, assegura.
Na safra de 2020/2021, as lavouras das cooperativas produziram mais de 400 mil sacas de soja e 150 mil sacas de feijão. Na safrinha, segundo a Coopihanama, foram colhidos 350 mil sacas de milho pipoca e 100 mil sacas de feijão Mungo, Caupu e Azuki.
A cooperativa conta com mais de 3 mil beneficiários e atualmente luta por linhas de crédito para projetos de agricultura familiar. Ligia explica que “os outros produtores têm esses recursos e, com isso, conseguem competitividade em seus produtos. Nós não, o que faz com que o nosso retorno seja menor, se comparado ao dos produtores”.
Kevelen acrescenta que é necessário que a aldeia tenha produtividade para competir com os outros fazendeiros. “Com esses recursos, aplicamos na aldeia, dando mais oportunidade de educação para as nossas crianças, agindo quando é necessário atendimentos médicos, ou proporcionando acesso a cultura”, finaliza.