A alfabetização digital é a habilidade de usar tecnologias para encontrar e transmitir informação. É ter as competências cognitivas e técnicas para navegar no ambiente digital de forma segura e ágil, sabendo analisar e criar conteúdo encontrado neste espaço. Em 2021, uma pesquisa da The Economist e do Facebook mostrou que o Brasil ocupa a 36ª posição no ranking global de inclusão digital. A lista avalia o acesso de um país à internet considerando disponibilidade, preços, relevância e capacidade de uso das pessoas, que mede o nível de educação e preparação para usar a Internet. O alarmante é que o que mais prejudica o avanço da inclusão digital no Brasil é justamente essa última questão, assim como aceitação cultural e políticas de apoio. Neste quesito, o país ocupa a 69ª posição.
Os prejuízos desse cenário são diversos. Hoje, estamos vivenciando uma reconfiguração social a partir das mudanças que a evolução da tecnologia traz cada vez mais para o nosso cotidiano. Por fatores sociais, econômicos e políticos, em alguns países, ele ocorre de forma mais lenta, em outras mais rápido. Cedo ou tarde, é um processo que o mundo todo sofrerá, passando por interferências irreversíveis na organização de suas relações. Quem não puder acompanhar o ritmo dessas mudanças e tomar sua parte nelas poderá ficar à margem dessa sociedade e, consequentemente, das tomadas de decisão que resultam de quem tem domínio das ferramentas digitais.
Em relação ao processo de inclusão digital, a educação apresenta grande responsabilidade. Há a necessidade de uma reformulação ampla do cenário educacional – o que implica repensar a formação dos profissionais, a estrutura física das escolas, a proposta pedagógica, políticas educacionais, entre outros quesitos que precisam ser modificados para atender a essa nova demanda de formação.
Por outro lado, crianças e adolescentes não são o único grupo vulnerável aos prejuízos da falta de instrução digital. Muitos idosos ainda são excluídos digitalmente no país. De acordo com um levantamento de 2020, realizado pelo SESC São Paulo e pela Fundação Perseu Abramo, apenas 19% da população acima de 60 anos usa a internet no dia a dia, enquanto 72% nunca utilizou um aplicativo. Sendo assim, é preciso pensar soluções que os contemplem também, uma vez que esses recursos são fundamentais para que elas tenham mais autonomia e independência.
No cotidiano, por exemplo, uma pessoa idosa que não consegue resolver suas contas e problemas financeiros por aplicativos tem que ir até o banco presencialmente. O mesmo pode acontecer quando falamos de compras de mercado, locomoção na cidade e, até mesmo, atividades de lazer — situações de rotina que hoje são facilitadas pelo digital. Pessoas em extremos etários não têm a força ou o controle para ir e voltar do mercado com suas compras sozinhas ou passar horas em transporte público. Com plataformas mais acessíveis, elas poderiam resolver seus compromissos com um ou alguns cliques. Junto a isso, eventos e encontros de lazer já passaram a ser combinados e divulgados estritamente pelo meio online. E se a nossa população idosa pudesse garantir um lado tão importante pro seu bem-estar de forma prática e frequente como todos nós?
Em um mundo em que há uma gama cada vez maior de informações circulando e em que as tecnologias passaram a fazer parte de praticamente todas as instâncias de nossas vidas, a falta de letramento digital afasta as pessoas tanto do seu bem-estar econômico quanto social. Habilidades e competências digitais são amplamente exigidas no mercado de trabalho, já que a tecnologia se tornou essencial para que empresas de todos os setores se mantenham competitivas. Sendo assim, mais do que conhecer ferramentas, as pessoas precisam saber quais são as portas que estão abrindo e como utilizá-las em prol do conhecimento e informação de qualidade. Se não soubermos nos guiar nesse lugar infinito de informação, não conseguiremos usar todo o potencial da tecnologia de forma efetiva para criar mudanças, tanto em nossas próprias vidas como na dos outros.
Fonte: Época Negócios