Demi Getschko é um pioneiro da internet no Brasil. E o único brasileiro a fazer parte do Hall of Fame da internet, que reúne personalidades que de alguma maneira contribuíram para a evolução da internet no mundo em toda sua história. Em 1991, foi responsável pela primeira conexão TCP/IP no Brasil, permitindo que a rede mundial de computadores chegasse ao país. 

Engenheiro eletricista formado pela Escola Politécnica da USP, montou e ainda dirige o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Participou ativamente das discussões e da elaboração do marco civil da internet e é voz ativa em todos os debates que envolvem a rede. 

Em entrevista à Bússola, falou sobre os limites do alcance do 5G, sobre como a tecnologia pode, de certa forma, contribuir para reduzir a exclusão digital e sobre segurança na internet. 

Hoje, às 15h, ele conversa com o matemático norte-americano Vint Cerf, cocriador do protocolo TCP/IP, durante o seminário 5G.br São Paulo, promovido pelo Ministério das Comunicações (MCom). O evento, que acontece no hotel Grand Hyatt, em São Paulo (SP), discute o alcance da transformação na economia e nos setores produtivos da chegada do 5G no Brasil. Para se inscrever, basta preencher um formulário no site do evento. 

Confira a entrevista. 

Bússola: O 5G vem sendo anunciado como uma revolução na conectividade, com aplicações importantes especialmente para o setor produtivo. Mas certamente não será uma tecnologia para todos. Quem vai usufruir dessa tecnologia? 

Demi Getschko: Penso que, inicialmente, quem vai usufruir do 5G são os que estão em centros urbanos onde conectividade e a instalação de antenas já são realidade. O 5G, como se sabe, proporciona bem mais banda e uma latência muito menor. Em áreas remotas, onde a fibra óptica ainda não chegou, teremos que aguardar esse suporte para ter estações de 5G. 

E ele vai se integrar a outras soluções já existentes, como o wi fi (especialmente o WiFi-6), muito útil em acesso público nas praças e nos estabelecimentos de uso coletivo, além das formas que existem em domicílios – também wi fi – e coisas como BlueTooth (para distâncias pequenas). Em áreas remotas, sem fibra ótica, a solução ainda será de rádio ou satélite. 

Bússola: Hoje no Brasil, 82% dos domicílios estão conectados à internet, mas o senhor fala em um conceito de falta de “acesso significativo”, para definir a exclusão digital no país. O que significa isso?  

Demi Getschko: Conectividade significante ou significativa é um conceito que prevê não apenas estar conectado, mas ter uma conexão que permita o uso das ferramentas digitais disponíveis. Certamente o 5G ajudaria em conectividade significativa porque aporta mais banda e, com isso, quem não conseguia usar aplicativos ou serviços tipo “streaming”, se tiver 5G, poderá usar. 

Além de banda, há que se ver o “letramento digital” dos usuários – se eles têm condições de usar as ferramentas digitais – e a capacidade dos dispositivos que eles possuem. Em muitos casos só se dispõe do celular e, em certas aplicações, ter um computador portátil dá muito mais resultado. Escolas são um caso em que computador portátil dá bem mais amplitude de uso que celular. 

Bússola: Considerando que as crianças têm contato cada vez mais cedo com o ambiente digital, o senhor considera a internet hoje um ambiente seguro? 

Demi Getschko: Certamente internet não é um ambiente seguro, especialmente para crianças. Mas a forma de amenizar os riscos é tentar acompanhar o que as crianças acessam, eventualmente criando ambientes mais restritos, com conteúdos adequados. Também é muito importante que os pais e as escolas introduzam a cultura da segurança no dia-a-dia das crianças. 

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