Segundo pesquisa, Brasil segue a tendência global, com maior foco de investimento no social – e grande espaço para crescimento em um mercado de mais de 500 bilhões de dólares

Apesar da melhor percepção sobre a sustentabilidade e da clareza de sua importância no mundo dos negócios, o investimento no setor não aumentou em 2023. Um novo estudo revela que as organizações continuam a ficar aquém do esperado em iniciativas ambientais, especialmente na medição e redução de emissões. Da mesma forma, as ações em torno do design de produtos sustentáveis não têm sido “nada impressionantes”, conforme o relatório anual “Um Mundo em Equilíbrio” (A world in balance 2023), da Capgemini, que teve sua segunda edição divulgada nesta quarta-feira (22).

Existem, no entanto, pontos positivos no progresso da definição de prioridades de sustentabilidade e na reformulação dos modelos de negócio: 57% dos executivos afirmaram que suas empresas estão em processo de redesenhar o seu modelo de negócio para ser mais sustentável, total bem superiores aos 37% registrados em 2022. A biodiversidade também tem se tornado cada vez mais um foco para as organizações. Com isso, a Capgemini diz esperar que o investimento e ações mais sustentadas sigam o mesmo caminho nos próximos um ou dois anos.

Na primeira edição da série, publicada no ano passado, foi possível perceber que, embora as organizações de todos os setores tenham definido metas a longo prazo para alcançar a sustentabilidade, a implementação era limitada. A pesquisa de 2022 revelou que muitos executivos não tinham clareza quanto ao argumento comercial da sustentabilidade, considerando-a como um fator de custos indesejável e não como uma oportunidade de investimento. Cerca de metade dos entrevistados acreditava que a sustentabilidade é uma opção inviável, com os custos envolvidos na sua concretização superando os benefícios.

“Uma forma proposta pelo estudo que pode mensurar a aplicação das promessas em ESG é a avaliação da própria sustentabilidade dos negócios, empresas que investem em ESG têm até 12% a mais de receita por colaborador do que a média e têm 95% a mais de chances de crescer este número do que a média. Outra forma de mensurar é na contabilidade, as metas de net zero precisam de investimento para serem atingidas, por exemplo, uma empresa que declara que fará a transformação de sua operação em 5 anos e não tem investimento previsto para tal, está praticando o chamado greenwashing”, revela Emanuel Queiroz, Head de Cloud e Sustentabilidade da Capgemini Brasil.

Em 2023, provavelmente impulsionado pelo aumento da incidência de condições meteorológicas extremas em todo o mundo, juntamente com uma regulamentação mais rigorosa, conforme o relatório, esta situação começou a mudar. Hoje, mais executivos afirmam que o caso de negócio da sustentabilidade é claro; na verdade, esta percentagem triplicou no ano passado, passando de 21% em 2022 para 63%. Outros também dizem que os benefícios da sustentabilidade superam os custos e encaram a sustentabilidade de forma mais positiva do que simplesmente como uma obrigação financeira.

“A preocupação dos executivos pesquisados é claramente crescente, a quantidade de líderes que acreditam que há um claro business case para sustentabilidade triplicou, e aqueles que acreditam que o investimento é uma obrigação sem retorno caiu de 53% para 22%, em apenas um ano. Em 2022 menos da metade dos pesquisados, 49% tinha em suas empresas metas bem estabelecidas de sustentabilidade, hoje são 61%, e 57% das empresas já estão mudando seu modelo de negócio para serem mais sustentáveis, no ano anterior eram 37%”, explica Queiroz.

O estudo ressalta que a sustentabilidade social está subindo na agenda corporativa, com mais de metade dos executivos (56%) afirmando que sua organização está cada vez mais focada na dimensão social da governança ambiental, social e corporativa (ESG), sendo os próprios funcionários das organizações os principais beneficiários.

“O estudo mostra que o Brasil segue a tendência global, com maior foco de investimento na agenda social. O país se destaca principalmente no tema da biodiversidade por possuir 1 de cada 5 espécies vivas do planeta. Além de contar com uma matriz energética mais limpa que pode possibilitar nos posicionar como um grande provedor de combustíveis limpos, como o hidrogênio verde”, complementa o Head de Cloud e Sustentabilidade da Capgemini Brasil.

A investigação revela, ainda, que as organizações podem fazer mais para apoiar os trabalhadores na cadeia de abastecimento, uma vez que apenas 38% restringem atualmente os fornecedores globais àqueles que pagam um salário digno. Podem também expandir a sua gama de produtos e serviços acessíveis para serem mais inclusivos para as pessoas com deficiência, problemas de saúde ou deficiência, e tornando-os mais acessíveis às comunidades locais.

Na pesquisa deste ano, também foi explorado o tema crítico do greenwashing – e a pesquisa encontrou uma lacuna de percepção entre executivos e consumidores. Apenas 17% dos executivos estão preocupados com o risco de lavagem verde, enquanto 33% dos consumidores a nível mundial acreditam que as organizações e marcas estão fazendo isso nas suas iniciativas de sustentabilidade, aumentando para 50% entre os consumidores da Geração Z.

O estudo apontou também que as organizações depositam as suas esperanças na tecnologia digital e, em particular, na inteligência artificial (IA) generativa, para as ajudar a alcançar os seus objetivos de sustentabilidade: 59% dos executivos acreditam que a IA generativa desempenhará um papel fundamental nos esforços de transformação da sustentabilidade da sua organização.

Texto: Um só Planeta