Para especialistas, os melhores líderes de hoje fizeram uma mudança geracional em seu modo de pensar, o que se assemelha à forma como atletas de elite se preparam, treinam e competem
No mundo dos esportes, é comum comparar atletas de hoje com as lendas do passado e debater sobre quem é o melhor. E, segundo especialistas da consultoria McKinsey, é um fato que, em quase todos os casos, os atletas de hoje venceriam com facilidade os mais antigos.
Em um artigo conjunto, Bob Sternfels, sócio-gerente global da McKinsey, e Daniel Pacthod, que lidera a iniciativa global para desenvolver futuros líderes seniores da McKinsey, afirmam que é inegável que os atletas de hoje, em todos os esportes, são mais fortes, mais rápidos, mais bem treinados, alimentados, equipados e preparados. Isso tudo graças ao avanço da tecnologia e da ciência esportiva, que trouxe novidades em nutrição, recuperação, estratégias de jogo, técnicas atléticas e coaching.
E qual a relação disso com os líderes de empresas? Para eles, os CEOs de hoje têm muito o que aprender com esse progresso. Os líderes estão no cargo 24 horas por dia, 7 dias por semana, são responsáveis por lidar com uma variedade de problemas, além de estar presente para stakeholders e colaboradores, tudo isso em um mundo com tecnologia em ritmo acelerado e ambiente geopolítico instável.
Para eles, os melhores líderes de hoje fizeram uma mudança geracional em seu modo de pensar, o que se assemelha fortemente à forma como atletas de elite se preparam, treinam e competem. “Em muitos aspectos, os cargos de CEO e de atleta de alto rendimento têm alta correlação”, dizem.
Eles listaram cinco práticas de liderança dos grandes atletas que CEOs podem adotar. Confira:
1) Usar o tempo com propósito
Os especialistas apontam que a maneira disciplinada como o jogador de basquete LeBron James organiza seu tempo é essencial para sua longevidade no topo. Em dias de jogo, sua rotina inclui acordar às 6h30, tomar banho gelado, fazer aquecimento, dar um cochilo ao meio-dia, fazer alongamento, massagem, preparação para o jogo às 19h — e, depois, uma boa noite de sono sem luz ou celular.
Os melhores CEOs são igualmente cuidadosos. Líderes eficazes priorizam tarefas-chave, concentram-se no que só eles podem fazer e criam as condições para alto desempenho nos momentos cruciais. Algumas outras práticas também funcionam bem. Uma delas é desenvolver um calendário “estático, mas flexível” com até 12 meses de antecedência. O cronograma é rígido no sentido de que as reuniões ocorrem pontualmente, com as mais importantes acontecendo durante os horários mais produtivos, e flexível no sentido de que inclui blocos de tempo não programados.
Eles citam como exemplo um CEO de uma empresa global de tecnologia que mantém 20% de sua agenda livre. Isso lhe permite recuperar o fôlego e reagir às situações conforme elas surgem. Gerenciar bem o tempo significa, portanto, entender que certos momentos são mais importantes do que outros.
2) Dominar a arte da recuperação
A recuperação é parte essencial do treinamento esportivo, pois permite ao corpo se reparar. Atletas de resistência como o maratonista Eliud Kipchoge praticam a técnica do “pico e declínio”, intensificando os treinos antes das provas e reduzindo a carga logo antes da competição. O jogador de futebol Cristiano Ronaldo segue uma dieta equilibrada de proteínas, carboidratos e gorduras saudáveis. O tenista Novak Djokovic, além de uma dieta sem glúten, usa técnicas de atenção plena para fortalecer sua mente.
A lição é que o descanso e a recuperação, tanto física quanto psicológica, contribuem para o desempenho máximo. Portanto, CEOs também precisam programar pausas para se recuperar. Atividades como exercícios físicos, música e meditação ajudam a recarregar as energias. Bons líderes cuidam da alimentação, do sono e reduzem o álcool — buscando equilíbrio sustentável.
3) Aprender sempre
Em 2019, Bryson DeChambeau, um golfista de sucesso, reformulou seu jogo. Mudou a dieta, ganhou 18 kg e passou a adotar outras técnicas para se tornar mais forte e bater a bola mais longe.
Líderes de alto desempenho não se veem como os mais espertos da sala, dizem Sternfels e Pacthod. Pelo contrário, são curiosos e abertos a aprender com outras indústrias, gerações e até concorrentes. Também buscam especialistas para preencher suas lacunas de conhecimento, visitam filiais e participam de conselhos. Satya Nadella, CEO da Microsoft, resume: “o que aprende tudo se sai melhor do que o sabe tudo.”
4) Analisar dados
Na Fórmula 1, cada carro tem mais de 300 sensores. Dados sobre o carro e o piloto são analisados em tempo real por uma equipe, permitindo ajustes estratégicos em milissegundos, e cada segundo por volta pode decidir o campeonato.
Os CEOs modernos fazem o mesmo. Muitos revisam dados de desempenho pessoal e das equipes semanalmente. Usam inteligência artificial, análise de dados e outras tecnologias para aprimorar as operações, criar vantagem competitiva e, de modo geral, elevar o desempenho de suas empresas. A velocidade importa, por isso eles estão sempre se perguntando como as informações corretas podem ser geradas e analisadas para que possam se mover mais rapidamente.
5) Ser adaptável e resiliente
Simone Biles enfrentou dificuldades nas Olimpíadas de Tóquio com os chamados “twisties”, condição mental que afeta ginastas e outros esportistas e causa incerteza e pouco controle sobre a execução de movimentos. Retirou-se de várias provas, apoiou suas colegas e, ainda assim, conquistou um bronze, na trave, e uma prata, na competição por equipe. Em Paris, em 2024, deu a volta por cima e saiu com quatro medalhas, três de ouro e uma de prata.
Os CEOs modernos precisam demonstrar resiliência semelhante, e às vezes tão drástica, para navegar por crises globais e condições de mercado em rápida mudança. Eles precisam ter “casca-grossa” e equilíbrio emocional. Bons líderes não desaparecem em momentos de estresse. Eles analisam a situação, aprendem com o que deu errado e se recuperam, dizem os especialistas.