terça-feira,26 novembro, 2024

10 filmes que quebram a quarta parede

Embora não seja tão comum assim, a quebra da quarta parede não é um recurso que volta e meia aparece no cinema. E, assim como nas séries, essa brincadeira metalinguística em que os personagens parecem ter ciência de que estão dentro de um filme é uma solução criativa que dá um charme todo especial para a obra. Afinal, é como se eles estivessem conversando com o público e alheios ao próprio roteiro que vivem.

E essa brincadeira pode ser usada para os mais variados fins. Há filmes que vão explorar a linguagem para fazer graça, enquanto outros constroem toda sua narrativa a partir dessa interação com o espectador, criando essa espécie de protagonista-narrador que vai descrevendo e opinando sobre tudo o que acontece. Isso sem falar daquela cumplicidade, principalmente com aquele vilão que sabe que suas ações vão além do que a trama propõe.

E é por ser um recurso tão rico que a quebra de quarta parede chama tanto a atenção quando é usada e sempre gera um momento marcante. Assim, relembre alguns filmes que souberam explorar muito bem essa mistura de filme com realidade e transformaram o público em parte ativa da história.

10. Persuasão

A adaptação do livro de Jane Austen chegou à Netflix com uma proposta bastante interessante ao usar a metalinguagem para transformar a protagonista também em narradora da história. A trama da jovem que desistiu de seu verdadeiro amor para casar com outro homem sob influência do seu pai ganha contornos mais leves graças às intervenções de Anne (Dakota Johnson) ao longo da narrativa.

Mais do que ser essa personagem que opina sobre os acontecimentos, ela é quase como alguém que leu o livro e vai preparando o espectador para o que vai acontecer. E isso permite que ela traga comentários espirituosos e até engraçadinhos na hora de narrar o drama romântico em que está metida.

9. Deadpool

Deadpool foi o filme que apresentou a um público totalmente novo como o cinema pode brincar com os limites de seu roteiro e trazer personagens que sabem que não só sabem que fazem parte de uma história como ainda tiram sarro disso. E, no caso do mercenário mutante, ele faz isso até de forma exagerada, rindo do próprio roteiro e zoando o estúdio, as histórias de super-heróis e até o ator.

Essa é uma característica que o personagem já trazia dos quadrinhos, mas que ganhou muito mais notoriedade nas telonas. A quebra da quarta parede em Deadpool é tão grande que o filme depende disso para que sua trama funcione.

8. Monty Python em Busca do Cálice Sagrado

É óbvio que os mestres da comédia já exploravam a metalinguagem muito antes de o recurso se popularizar entre as grandes produções. Em 1975, no fantástico Em Busca do Cálice Sagrado, o pessoal do Monty Python já interrompia cenas para reclamar que uma piada estava ruim demais e até trazia a polícia do humor para interditar toda uma sequência que não estava agradando o público, levando a história para novos rumos.

7. Psicose

Mas não é só na comédia e no romance água com açúcar que esse recurso de metalinguagem funciona no cinema. Na verdade, os filmes de terror e suspense também fazem ótimo uso dessa interação entre personagem e público, fazendo com que a ciência de que ele está sendo visto pela audiência apenas torna tudo ainda mais tenso.

E, em 1960, o genial Alfred Hitchcock usa essa solução nos segundos finais de Psicose para expor o quão perturbado é Norman Bates (Anthony Perkins). Sob custódia na delegacia, acompanhamos a narração de sua mãe falando sobre seu amado e querido filho e como ele jamais seria capaz de machucar uma mosca — e, nesse instante, o personagem olha não para a câmera, para o público e traz um breve e cínico sorriso que nos leva direto para a mente do psicopata. É simples e muito perturbador.

6. Laranja Mecânica

Da mesma forma, Stanley Kubrick também usa esse olhar direto para o espectador para causar desconforto já nos segundos iniciais de Laranja Mecânica. No caso, não há um sorriso para coroar o momento, apenas uma longa e demorada encarada de Alex (Malcolm McDowell) para o público.

Na verdade, são apenas 20 segundos, mas é algo que causa um incômodo tão grande que parecem longos minutos e cria a sensação que Kubrick esperava logo de início. Afinal, logo em seguida, ele abre a câmera e vemos que todo o ambiente consegue ser ainda mais perturbador do que isso.

5. Curtindo a Vida Adoidado

Voltando para a quebra da quarta parede do bem, temos o clássico da Sessão da Tarde, Curtindo a Vida Adoidado. Talvez as gerações mais novas não façam ideia do que estamos falando, mas o longa de John Hughes é um marco dos anos 1980 e 1990 não só pela história, trilha sonora e carisma de seus personagens, mas por fazer com que Ferris Bueller (Matthew Broderick) fosse como um amigo nosso que conversasse com a gente enquanto matava aula.

Tanto que ele olha para a câmera diversas vezes e até nos convida a acompanhá-lo nesse “dia de folga”, o que cria tanto essa empatia com o protagonista como também nos envolve em sua trama.

Além disso, há a velha teoria de que Curtindo a Vida Adoidado é sobre os problemas psiquiátricos de Cameron (Alan Ruck) e que Ferris é apenas um delírio seu. Assim, as interações do personagem com a câmera seriam mais um sinal disso.

4. Psicopata Americano

Ainda nesse modelo de conversar com o espectador, Psicopata Americano quebra a quarta parede ao fazer com que seu protagonista Patrick Bateman (Christian Bale) seja esse narrador consciente. Enquanto o filme acontece, ele segue descrevendo a situação e dando seu ponto de vista sobre os acontecimentos e sempre se direcionando com o público, nesse tom de cumplicidade — o que é bastante assustador.

Assim, o que temos é um belo passeio pela mente desse psicopata. A partir dessas interações, é como se ele se abrisse para o espectador, que passa a entender como funciona a cabeça do personagem. Ao mesmo tempo, cai a nossa ficha que de que esse maluco nos vê como um igual.

3. Clube da Luta

Clube da Luta segue o mesmo modelo de Psicopata Americano, com esse protagonista narrador que conversa com a gente e dá sua opinião sobre alguns personagens. E isso é especialmente importante quando ele começa a falar sobre o misterioso Tyler Durden (Brad Pitt), pois nos permite tanto ficar mais próximo desse personagem como também entender o que esse narrador de Edward Norton pensa sobre tudo isso — o que tem uma relevância absurda no final da história.

2. A Grande Aposta

A metalinguagem é uma das características do diretor Adam McKay, que aposta em uma edição bastante ágil e com personagens que interagem não só entre si, mas com os vários elementos que ele vai jogando em cena — tudo isso para situar o espectador dentro da enxurrada de informação que ele costuma jogar em suas trama.

Isso é bem claro em A Grande Aposta, filme que fala sobre a crise causada pela bolha imobiliária em 2016, e que usa a quebra da quarta parede para explicar conceitos que, a princípio, podem parecer confusos para quem não está habituado à linguagem do mercado. Assim, o que ele faz é abrir alguns parênteses na história para que os personagens e também algumas celebridades expliquem o que são os conceitos que eles estão abordando naquele momento.

É o tipo de solução arriscada que poderia transformar o longa em um Telecurso 2000 de grande orçamento, mas que funciona muito bem.

1. O Lobo de Wall Street

Em O Lobo de Wall Street, o sempre excelente Martin Scorsese brinca com a linguagem para que a gente possa conhecer melhor seu protagonista. A ideia é mostrar o quanto Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) é esse homem de negócios bem-sucedido, extremamente confiante e carismático. E não há forma mais ideal de fazer com que a gente se afeiçoe a esse trambiqueiro do que nos transformando em seu amigo.

Assim, ele está sempre conversando com o público e contando segredos ou mesmo narrando alguns acontecimentos em tela, dando seu ponto de vista para tudo aquilo. É o mais clássico uso da quebra da quarta parede, mas que funciona ao cumprir seu papel de nos deixar lado a lado com o protagonista e dentro de seus esquemas.

Por: Durval Ramos 

Redação
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